A questão que se coloca é: deve-se acompanhar as leituras bíblicas proclamadas nas Missas pelos folhetos (Deus Conosco, O Domingo, Sancta Missa e outros) ou deixá-los de lado e prestar atenção ao que está sendo lido, ou melhor, escutar a leitura que está sendo proclamada pela leitora ou leitor?
A Missa é uma celebração de natureza eclesial, ou seja, comunitária. O povo de Deus é convocado e reunido, para, sob a presidência do sacerdote (bispo, padre) que representa a pessoa de Cristo, celebrar a memória do Senhor ou sacrifício eucaristíco.
A Missa é o lugar por excelência da presença da Trindade: Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. A comunidade trinitária presente. A comunidade Povo de Deus também presente.
No significado da palavra celebrar (do latim, celebrare), está o efeito de fazer, em grande número, algo solene, notável. O indicador é, portanto, de pluralidade de pessoas. Daí, deduz-se que a Missa, ou a Eucaristia, não pode ser uma celebração de natureza individual.
No diálogo que se estabelece na Missa, Deus vem falar para a comunidade reunida. É Deus quem fala, e o faz por intermédio da leitora, leitor, salmista. E Cristo, presente em sua palavra, anuncia o Evangelho, e o faz na pessoa do sacerdote ministerial (padre).
Mais expressivo dizer que a Palavra de Deus é proclamada (do latim pro + clamare, ou seja, clamar em frente, diante). Ninguém brada para si. Proclamar (proclamare) já traz em seu conceito o sentido de clamar para muitas pessoas (público). É a Palavra de Deus bradada, ou melhor, clamada pela leitora ou leitor em voz alta e solenemente diante da assembléia.
Você já pensou: é Deus quem fala! Nesse momento cultual em que Deus fala por meio da leitora ou leitor, por que a gente não procura, reverente e atentamente, escutar a Palavra que está sendo proclamada?
Diz um notável teólogo da Liturgia: "Isso significa que a leitura litúrgica deve ser entendida como proclamação, ou seja, como uma leitura dirigida à assembléia que ouve. No momento cultual não há de fato lugar para a leitura privada ou pessoal; nem sequer para a que muitas vezes hoje em nossas igrejas cada qual é tentado a fazer no "seu" folheto." (Cesare Giraudo, Admiração eucarística. Para uma mistagogia da missa à luz da encíclica 'Ecclesia de Eucharistia', tradução de Orlando Moreira, São Paulo, Edições Loyola, 2008, pág.75). Ou, como diz o mesmo liturgista, "não fazem mais que repetir em particular as leituras" (pág. 71).
Em conclusão, enquanto se proclamam as leituras bíblicas, não é o momento cultual para, utilizando-se dos chamados "folhetos litúrgicos", fazer leitura individual das mesmas passagens bíblicas. Do contrário, Deus fala e Cristo anuncia para uma assembléia ocupada com a leitura dos folhetos. Em outros dizeres, os membros da assembléia olham, com as cabeças abaixadas, para os folhetos, e não escutam. Neste caso, o binômio proclamação e escuta está em ruído, ou seja, está falho.
Fonte da primeira imagem:
http://liturgiacatolica-liturgia.blogspot.com/2009/04/o-leitor.html
Fonte da segunda imagem:
http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/foto/0,,16207275-FMM,00.jpg
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