sábado, 29 de março de 2008

Divina Misericórdia

Sobre o sentido bíblico do termo misericórdia, o Papa João Paulo II traz seguras informações na nota de rodapé n. 52 da sua encíclica Dives in misericordia sobre a Misericórdia Divina, de 30 de novembro de 1980. [1]

Para o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa: "m. divina REL. segundo o cristianismo, a imensa bondade de Deus, que o leva a conceder graça aos homens e perdão aos pecadores." [2]

Ainda: sobre a Misericórdia Divina, leia aqui; e sobre a virtude da misericórdia, leia aqui.


O Papa João Paulo II foi o grande propagador da Misericórdia Divina, tema que o acompanha desde seus tempos em Cracóvia (Polônia). Para isso, concorreu Santa Faustina (1905-1938), religiosa polonesa, que pertencia a Congregação das Irmãs de Nossa Senhora da Misericórdia, cujos procedimentos para o início do processo de beatificação foram dados pelo então arcebispo da Cracóvia, cardeal Karol Wojtyla. Tanto a beatificação da irmã Faustina, em 18 de abril de 1993 (Segundo Domingo da Páscoa), quanto a canonização, foram realizadas pelo Papa João Paulo II. O Rito de Canonização de Maria Faustina Kowalska [irmã Faustina] foi realizado na Concelebração Eucarística celebrada no Segundo Domingo de Páscoa de 2000 (30/4), cuja homilia pode ser lida aqui.

Nessa homilia, João Paulo II diz: "É importante, então, que acolhamos inteiramente a mensagem que nos vem da palavra de Deus neste segundo Domingo de Páscoa, que de agora em diante na Igreja inteira tomará o nome de "Domingo da Divina Misericórdia" (n. 4).

Era, então, necessário dar forma concreta ao tópico da homilia acima reproduzido. A Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, seguindo orientação papal para que o II Domingo da Páscoa do Ano Litúrgico tenha a seguinte denominação: "II Domingo da Páscoa ou da Divina Misericórdia", baixou o Decreto Misericors et miserator Dominus, de 5 de maio de 2000, publicado em 23 de maio de 2000 (não há versão em português).

Os textos litúrgicos não sofreram mudança. São os mesmos tanto os do Missal Romano quanto os da Liturgia das Horas.

O Diretório Litúrgico e da Organização da Igreja no Brasil - 2008, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, adota para a celebração da Eucaristia (Missa) do dia 30 de março de 2008 (pág. 85) a seguinte denominação: 30 + Br. 2º DOMINGO DA PÁSCOA [com subtítulo] Domingo da Divina Misericórdia.

A Oração do dia prevista no Missal Romano para o Segundo Domingo da Páscoa (pág. 303) invoca a misericórdia de Deus: "Ó Deus de eterna misericórdia, que reacendeis a fé do vosso povo na renovação da festa pascal, aumentai a graça que nos destes. (...)".

Detenha-se mais sobre o Domingo da Misericórdia, lendo aqui.

São concedidas indulgências nos atos de culto, realizados em honra da Misericórdia Divina, como podem ser lidas do Decreto da Penitenciária Apostólica, datado de 29 de junho de 2002.

Para celebrar o terceiro aniversário de falecimento do Papa João Paulo II, será realizado, em Roma, entre os dias 2 e 6 de abril próximo o Primeiro Congresso Apostólico Mundial sobre a Misericórdia.


Leia mais:



[1] O termo misericórdia chega até nós via latim: de misericordia (= compaixão), que se forma do verbo misereo (= ter compaixão) e do substantivo neutro cor (= coração).

[2] Antônio Houaiss e Mauro de Salles Villar, Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, elaborado no Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia e Banco de Dados da Língua Portuguesa S/C Ltda., Rio de Janeiro, Editora Objetiva Ltda., 2001, 2ª reimpressão com alterações, 2007, p. 1933.

Fonte da imagem:
http://www.websister.blogger.com.br/2004_04_01_archive.html

domingo, 23 de março de 2008

Tempo Pascal: as aparições do Jesus ressuscitado


Os cinqüenta dias que se seguem do Domingo da Ressurreição, inclusive, até o Domingo de Pentecostes, formam o Tempo Pascal.

Na expressão de Tertuliano (155-220): "Este tempo é propriamente um "dia da festa"." [1] É uma única festa pascal. Ou, como rezam as Normas Universais sobre o Ano Litúrgico e o Calendário: "Os cinqüenta dias entre o domingo da Ressurreição e o domingo de Pentecostes sejam celebrados com alegria e exultação, como se fossem um só dia de festa, ou melhor, "como um grande domingo"" (n. 22). Conforme nota de rodapé n. 12, para a expressão "como um grande domingo", as referidas Normas Universais se reportam a Santo Atanásio, Epist. fest., 1: PG 26, 1366.

É o tempo das aparições do Jesus ressuscitado. Não são aparições sem sentido. Ao contrário, elas visam educar, transmitir e fortalecer os apóstolos, hoje nós, na fé pascal, como, por exemplo, por intermédio daquela passagem de Os discípulos de Emaús (Lc 24, 13-35), interpretada por Caravaggio em A Ceia de Emaús (pintura acima).

Os Domingos do Tempo Pascal são tidos como Domingos da Páscoa. O Domingo da Páscoa na Ressurreição do Senhor, que é antecedido pela Vigília Pascal, é o primeiro Domingo da Páscoa. No Brasil, celebra-se a solenidade da Ascensão do Senhor no sétimo Domingo da Páscoa. No domingo seguinte, celebra-se a solenidade de Pentecostes, quando se encerra o Tempo Pascal.

O Círio Pascal, que é símbolo do Cristo ressuscitado, marca o Tempo Pascal. Estará aceso tanto nas Celebrações Eucarísticas (Missas) quanto nas laudes e vésperas da Liturgia das Horas, até o Domingo de Pentecostes inclusive.


Leia mais:

Círio Pascal: Eis a luz de Cristo!


[1] O Baptismo, n. 19, apud Antologia Litúrgica: textos litúrgicos, patrísticos e canónicos do primeiro milénio, recolha de textos, tradução e organização de José de Leão Cordeiro, Santuário de Fátima-Portugal, Secretariado Nacional de Liturgia, p. 200, n. 641.



Fonte da imagem:
http://www.pime.org.br/noticias.inc.php?&id_noticia=6557&id_sessao=2

quinta-feira, 20 de março de 2008

Tríduo Pascal: fonte da vida cristã

O Tríduo Pascal está no contexto da Semana Santa. Começa com a Missa vespertina da na Ceia do Senhor, na Quinta-Feira Santa, e termina na tarde com as Vésperas do domingo da Páscoa na Ressurreição do Senhor. Ou, como dizem as Normas Universais sobre o Ano Litúrgico e o Calendário: "O Tríduo pascal da Paixão e Ressurreição do Senhor começa com a Missa vespertina na Ceia do Senhor, possui o seu centro na Vigília Pascal e encerra-se com as Vésperas do domingo da Ressurreição" (n. 19).

Na "Tabela dos Dias Litúrgicos" das mencionadas Normas Universais (n. 59), o Tríduo Pascal da Paixão e Ressurreição do Senhor goza de primeiríssima ordem de precedência sobre qualquer outra celebração. E até mesmo sobre o Natal do Senhor, que muitos pensam ser a principal solenidade da Igreja. Não é. A principal solenidade da Igreja é o Tríduo Pascal.

Dada essa proeminência fundamental para os cristãos, Santo Agostinho adverte: "Presta atenção ao Tríduo sacratíssimo do crucificado, do sepultado e do ressuscitado. [...] no Evangelho, são claros não só o dia em que o Senhor foi crucificado, como também aquele em que esteve no sepulcro e aquele em que ressuscitou." [1]


O Tríduo Pascal tem seu ponto celebrativo mais elevado com a Vigília, de modo que as já mencionadas Normas Universais (n. 21) mandam que a sua celebração deve realizar-se à noite (Sábado Santo), começando depois do anoitecer e terminando antes da aurora do Domingo.

Esta Vigília Pascal é, na feliz expressão de Santo Agostinho, "a mãe de todas as santas vigílias". [2] E o santo exorta: "Permaneçamos, pois, de vela, e oremos para celebrar esta vigília, exterior e interiormente. Deus fala a nós pelas suas leituras, falemo-Lhe nós a Ele pelas nossas orações. Se escutarmos com obediência as suas palavras, Aquele que nós invocamos com a nossa oração morará em nós." [3]

Por fim, eis o que diz Santo Ambrósio (340-397), que foi bispo de Milão (Itália): "Devemos observar não só o dia da Paixão, mas também o da Ressurreição, de modo que tenhamos um dia de amargura e também um dia de alegria; jejuemos naquele, saciemo-nos neste. (...) É esse o Tríduo sagrado... durante o qual Cristo sofreu, repousou e ressuscitou, acerca do qual está escrito: Destruí este templo e em três dias o reedificarei." [4]



Leia mais:

Semana Santa: os dias decisivos de afirmação na esperança


[1] Carta 55, escrita a Januário, ns. 24 e 27, apud Antologia Litúrgica: textos litúrgicos, patrísticos e canónicos do primeiro milénio, recolha de textos, tradução e organização de José de Leão Cordeiro, Fátima -Portugal, Secretariado Nacional de Liturgia, p. 826, ns. 3428 e 3429.

[2] e [3] Sermão 219: Vigília pascal, apud Antologia..., acima citada, p. 911, n. 3857.

[4] Carta 23, ns. 12 e 13, apud Antologia..., acima citada, p. 548, n. 2099.


Fonte da primeira imagem:
http://www.30giorni.it/br/articolo.asp?id=2241

Fonte da segunda imagem:
http://criticomusical.blogspot.com/2003/06/deposio-de-cristo-no-tmulo-por.html

Fonte da terceira imagem:
http://www.catedraldeniteroi.com.br/santo_terco.html

quarta-feira, 12 de março de 2008

Semana Santa: os dias decisivos de afirmação na esperança


É a semana decisiva para Jesus. Ele está (ou deveria estar) no centro dos acontecimentos desta semana.

A última semana de Jesus é tão sagrada quanto fundamental para os cristãos.

Depois da longa caminhada com Jesus, todos alegres na esperança (Rm 12,12), é o momento de testar o amadurecimento na fé, para dizer sim ou não, para fugir ou permanecer, para alegrar-se, jubilar-se com todos ou refugiar-se na tristeza da solidão...

Segundo dispõem as Normas Universais sobre o Ano Litúrgico e o Calendário (n. 31), aprovadas por Motu Proprio de Paulo VI, de 14 de fevereiro de 1969: "A Semana Santa visa recordar a Paixão de Cristo, desde sua entrada messiânica em Jerusalém".

Cinco domingos do Tempo da Quaresma já são passados. No dia 16 de março, celebra-se o sexto domingo, que se chama "Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor", com o qual se inicia a Semana Santa, também chamada a Semana Maior, a Grande Semana e ainda a Semana da Salvação.

É santa porque o Santo por excelência, o Cristo, está no seu centro. E todos os demais qualificativos desta significativa semana encontram ressonância numa só pessoa: Jesus, o Messias, o Cristo.

Todo o tempo quaresmal já transcorrido pode ser considerado como tempo de preparação objetivando à subida com Cristo para Jerusalém, a fim de que, ali e com ele, partilhar o seu mistério pascal.

Liturgicamente, a Semana Santa está, em parte, dentro do Tempo da Quaresma, cujo término se dá na Quinta-Feira Santa, depois do pôr-do-sol, mas antes da celebração da Ceia do Senhor. Em outras palavras, é na Semana Santa, mais precisamente no seu quinto dia (quinta-feira), depois do pôr-do-sol, que se conclui o Tempo da Quaresma. Em seguida, com a celebração da Ceia do Senhor, tem início o Tríduo Pascal, do qual, por sua proeminência no ano litúrgico, falaremos no post seguinte.

E concluímos com as palavras do Papa Paulo VI: "Se há uma liturgia, deveria encontrar-nos todos juntos, atentos, solícitos e unidos para uma participação plena, digna, piedosa e amorosa, esta é a liturgia da grande semana. Por um motivo claro e profundo: o mistério pascal, que encontra na Semana Santa a sua mais alta e comovida celebração, não é simplesmente um momento do ano litúrgico; ele é a fonte de todas as outras celebrações do próprio ano litúrgico, porque todas se referem ao mistério da nossa redenção, isto é, ao mistério pascal". [1]


Leia mais:



[1] Paulo VI, "Sermão da quarta-feira", in Encicliche e discorsi, Edizioni Paoline, Roma, 1966, vol. IX, p. 368, citado por Augusto Bergamini, Cristo, Festa da Igreja: história, teologia, espiritualidade e pastoral do ano litúrgico, tradução de Euclides Martins Balancin, São Paulo, Paulinas, 1994, p. 291.


Fonte da imagem:
http://comunidadejoao23.blogspot.com/2006/04/domingo-de-ramos.html

sexta-feira, 7 de março de 2008

Sudário: entre ciência e fé


Sudário, do latim sudarium [1], ou síndone, do grego syndon, é um lençol de linho sobre o qual está impressa a figura do corpo de um homem torturado e crucificado. A imagem impressa no lençol apresenta a singular característica de comportar-se como um negativo fotográfico.

É conhecido por Santo Sudário, ou Sudário de Turim. Usa-se também a palavra Síndone (Santa Síndone), que, em grego, significa tecido de linho de boa qualidade.

No dia 29 de fevereiro, sexta-feira, foi realizado um Congresso Internacional, organizado no âmbito de Mestrado em Ciência e Fé do Ateneu Pontíficio "Regina Apostolorum", tratando do fascinante e sempre atual tema: o Sudário. Em italiano, mais material pode ser lido aqui.

Em Turim, é onde se encontra o Santo Sudário, sob a curadoria do Arcebispo local.

Em 1998, entre os dias 18 de abril e 14 de junho, foi realizada uma exposição pública do Santo Sudário, em comemoração do qüinquagésimo aniversário da Catedral de Turim e do primeiro centenário da exposição do Sudário em 1898, ocasião em que o Sudário foi fotografado pela primeira vez por Secondo Pia (1855-1941), entre os dias 25 e 28 de maio. A fotografia revelou a figura de uma pessoa, na posição frontal e dorsal, com a singular novidade de se apresentar como se fosse um negativo de uma fotografia. A fotografia de Secondo Pia foi fundamental para o início dos estudos e pesquisas, sobremodo no campo médico-legal.

O Papa João Paulo II, em visita pastoral à Arquidiocese de Vercelli e de Turim, no dia 24 de maio de 1998, no solene momento de veneração diante do Santo Sudário, falou aos presentes, e destaco alguns pontos-chave da fala do Papa:

. "O Sudário é uma provocação à inteligência."

. "O que sobretudo conta para o crente é o fato de o Sudário ser espelho do Evangelho."

. "No Sudário reflete-se a imagem do sofrimento humano."

. "O Sudário é também imagem do amor de Deus, e do pecado do homem."

. "O Sudário é também imagem de impotência: impotência da morte, na qual se revela a conseqüência extrema do mistério da Encarnação."

. "O Sudário é imagem do silêncio."

Texto completo, em português, pode ser lido em "Palavras do Padre João Paulo II no Solene Momento de Veneração diante do Santo Sudário". E a saudação do Papa João Paulo II às autoridades civis e à população de Vercelli, em 23 de maio de 1998, pode ser lida aqui.

No ano de 2000, entre os dias 29 de abril e 11 de junho, em face da celebração do Jubileu, foi realizada nova exposição pública.

Neste Tempo de Quaresma, em que se prepara a caminhada rumo a Jerusalém, afigura-se oportuna a leitura de algum material sobre o Santo Sudário, numa visão de edificação cristã como é colocada pela Igreja.

Concluo com as palavras do Papa João Paulo II: "Uma relíquia extraordinária e misteriosa, e, - se aceitarmos os argumentos de muitos cientistas, - uma testemunha singularíssima da páscoa, da paixão, da morte e da ressurreição. Testemunha muda e, ao mesmo tempo, surpreendentemente eloqüente!" [2]


Leia mais:

O que é o Sudário de Turim (autor: Ernesto Arosio)

Centro do Santo Sudário (Diocese de Pelotas - RS-Brasil - Santuário de Guadalupe)





[1] sudarium, ii [sudor], n. Lenço; pano para limpar o suor do rosto. (Francisco Torrinha, Dicionário Latino-Português, Porto - Portugal, Edições Marãnus, terceira edição, 1945, p. 837.

[2] fonte da citação:
http://www.paroquiasaojoaodebrito.com.br/Conteudo/Frente/MateriaSudario.htm


Fonte da primeira imagem:
http://www.linteum.com/espanol/sindone/medicina.htm

Fonte da segunda imagem:
http://www.upra.org/articulo.phtml?id=2502&se=5

Fonte da terceira imagem:
http://www.linteum.com/espanol/sindone/imagen.htm