domingo, 10 de fevereiro de 2013

Por que "Palavra da Salvação"?

  
Ele [Cristo] que fala ao ser lida na Igreja a Sagrada Escritura (SC, n. 7)


Terminada a proclamação do Evangelho (Lc 5, 1-11), o padre inicia a homilia, fazendo à assembléia a pergunta: por que, ao término do Evangelho, se diz "Palavra da Salvação"?

E o padre o fez na celebração da Eucaristia dominical do dia 10 de fevereiro de 2013 (5º Domingo do Tempo Comum), no contexto do Ano da Fé, para estimular a assembléia a viver a vida, a pensar os fatos da vida, iluminada pela centralidade no Cristo Salvador. Cristo é o centro da nossa fé. Maria e os santos são janelas para Cristo.

É, assim, que o padre iniciou e conduziu sua homilia: a salvação vem de Cristo e a fé está centrada nele, que, ressuscitado, vive.

À pergunta do padre, não faço uma resposta pessoal, mas tomo a liberdade de reproduzir um artigo publicado na Revista "Mundo e Missão", porque, abrangente, responde à essa indagação, remete a passagens da Sacrosanctum Concilium (SC) e orienta equipes de liturgia, ou de celebração, para outros mais aspectos da Palavra proclamada na celebração da Eucaristia, ou da Missa.


"Sentir Deus falando
 um sagrado direito do povo na missa
 por Frei José Ariovaldo da Silva, Ofm

Na liturgia, sobretudo na missa, Cristo está presente de várias maneiras. Uma delas é quando se lêem as Escrituras. Quando se fazem as leituras, se canta o salmo e se proclama o Evangelho, é Cristo mesmo que se comunica com seu povo reunido. 

Não é um livro e nem são palavras que se lêem, mas é a Palavra viva (Cristo mesmo!) que se anuncia como Palavra de vida para todos. É o que nos ensina a Igreja. É só conferir os n.7 e 33 da Constituição sobre a Sagrada Liturgia (SC) do Concílio Vaticano II. Afirma textualmente o documento: "Na liturgia Deus fala a seu povo. Cristo ainda anuncia o Evangelho" (SC 33). 

Então eu pergunto: Quando você vai à missa (ou mesmo numa celebração dominical da Palavra), dá para sentir de fato que é Deus que está falando com seu povo, quando se lêem as Escrituras? Ou tem alguma coisa (algum "ruído") que atrapalha?... E olha! Você tem todo direito (e até obrigação!) de sentir Deus falando com você (veja o n.14 da citada Constituição)! 

Você está conseguindo desfrutar desse sagrado direito? Pois bem, para que você possa, na missa, desfrutar do sagrado direito de sentir Cristo falando com você e com todo o povo reunido, seguem aqui algumas recomendações para as equipes de liturgia, para os leitores, para os salmistas e para os padres: 

Quem vai ler deve preparar-se espiritualmente para a leitura. Ler antes. Meditar. Orar em cima da Palavra. Deixar ela tomar conta de todo o seu ser (corpo, mente, coração, emoções). O leitor e a leitora devem ser os primeiros ouvintes da Palavra. E também devem se preparar tecnicamente, através de ensaios, cursos e avaliações para aperfeiçoamento. É muito importante. 

Atenção equipes de liturgia! Evitar pegar pessoas na última hora para ler, em cima da hora, de improviso. Inclusive se recomenda que a leitura seja entregue pela equipe com bastante antecedência, para ser preparada com calma, até mesmo durante toda a semana. 

Recomenda-se que a proclamação da Palavra seja feita de um lugar apropriado, só para ela: de uma estante especial, grande, bonita, distinta, que oficialmente chamamos de ambão. Isso para enfatizar o "lugar" de onde Deus fala para o seu povo. Por isso, para dar distinção à Palavra, não usar este espaço para outras coisas. Comentários e avisos sejam feitos em outro lugar. 

A Igreja orienta que as leituras sejam feitas diretamente do livro de leituras (chamado de lecionário). Isso por causa de dignidade da Palavra de Deus. O folheto é uma espécie de descartável. Hoje se usa e amanhã é jogado fora, vai para o lixo. A Palavra não é "descartável". É eterna. É Cristo. Por isso, por ser eterna, convém que ela seja proclamada diretamente do livro (não-descartável). A dignidade da Palavra exige que se evite o "ruído" do uso de "descartáveis" para a sua proclamação.

Recomenda-se também que, ao ouvir a Palavra (seja nas leituras e no canto do salmo, como, sobretudo na proclamação do Evangelho), o povo não fique acompanhando pelo folheto. A Palavra é para ser "ouvida"! Deus fala e você ouve... Quando alguém fala com você (ainda mais quando é Deus quem fala!), você fica de olho grudado no jornal? Evidente que não!

É questão até de educação. Quando Deus fala para você, desgrude o olho do jornal. Apenas olhe para frente (para o leitor ou leitora) e escute, "ouça" o que o Senhor diz! O ideal seria que os folhetos nem trouxessem os textos das leituras, do salmo e do evangelho. Exatamente para ajudar as pessoas a exercer o seu sagrado direito de realmente sentir Deus falando.

Quem proclama a Palavra, ao fazer as leituras, faça-o com voz clara (para todos ouvirem!), devagar, pausadamente, respeitando as pontuações. E, sobretudo, ler com espiritualidade, vivenciando o que lê, colocando emoção no que lê. Evite-se o "ruído" da leitura rápida demais, em voz baixa, sem pontuação e, sobretudo, sem espiritualidade.

A dignidade da Palavra exige também, da parte de quem a lê, uma postura digna. O leitor (ou leitora) fique apoiado (a) sobre os dois pés, exatamente para expressar a firmeza desta rocha que é a Palavra. Por isso, evite-se o "ruído" de permanecer apoiado (a) sobre um pé só (com o outro pé para trás, ou para frente).

E mais: ao ler, olhar com carinho para os ouvintes, como Deus olha para o seu povo. No olhar de quem lê, os ouvintes querem sentir o olhar de Deus. Evite-se, portanto, o "ruído" de ficar com o olhar preso só no livro. E mais: em muitas comunidades no Brasil, quem vai fazer a leitura já coloca uma veste própria para o exercício deste ministério.

Não ler os títulos orientativos, tais como: "Primeira leitura", "Segunda leitura", "Salmo responsorial", "Evangelho". Isso não é Palavra de Deus. São apenas títulos para não se perder. Quando estes títulos são lidos, quebra-se o ritmo e a harmonia da escuta da Palavra. Evite-se também este "ruído". Nunca se diga o nome da pessoa que vai fazer a leitura.

Dizer o nome da pessoa significa dar destaque à pessoa. Na hora de fazer a leitura, quem deve estar em destaque é, acima de tudo, a Palavra! Toda a atenção tem que estar centrada é na Palavra. Assim sendo, dizer o nome de quem vai ler significa, de certa maneira, "roubar a cena" da Palavra. É um "ruído" a mais que desvia a atenção do centro, que é Cristo falando para o seu povo.

Quando termina a leitura, diga-se "Palavra do Senhor", ou "Palavra da Salvação" (no caso do Evangelho), no singular. Por quê? Porque é Cristo-Palavra que foi proclamado. Por isso, evite-se o ruído de dizer "Palavras do Senhor" ou "Palavras da Salvação" (no plural). Pois não são "palavras" que são lidas, mas é "a Palavra" (Cristo) que é proclamada. Outra coisa: faça-se uma pequena pausa antes de dizer "Palavra do Senhor" ou "Palavra da Salvação". Isso ajuda a vivenciar melhor o que foi lido e ouvido.

Enfim, que tal implementar, nas dioceses, paróquias e, até mesmo, em institutos teológicos e pastorais, escolas de preparação para leitores, como era costume em certas comunidades dos primeiros séculos do cristianismo!... Um maravilhoso sinal de que a Palavra na Liturgia é de fato levada a sério, no mesmo nível como a sério é levada a Eucaristia.

Eis algumas recomendações úteis para que o povo possa viver mais plenamente o seu sagrado direito de sentir Deus falando, quando se lêem as Escrituras na missa. Queira Deus que isso aconteça em nossas comunidades. Afinal, é o grande sonho do Concílio Vaticano II, 40 anos já passados."


Leia mais:



Fonte do texto reproduzido:
http://www.pime.org.br/mundoemissao/teologiadeus2.htm

Fonte da imagem:
http://padretelmofigueiredo.blogspot.com.br/2013/01/3-domingo-do-tempo-comum-ano-c-homilia.html

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