Ele [Cristo] que fala ao ser lida na Igreja a Sagrada Escritura (SC, n. 7)
Terminada a proclamação do Evangelho (Lc 5, 1-11),
o padre inicia a homilia, fazendo à assembléia a pergunta: por que, ao término do Evangelho, se diz "Palavra da Salvação"?
E
o padre o fez na celebração da Eucaristia dominical do dia 10 de
fevereiro de 2013 (5º Domingo do Tempo Comum), no contexto do Ano da Fé, para
estimular a assembléia a viver a vida, a pensar os fatos da vida,
iluminada pela centralidade no Cristo Salvador. Cristo é o centro da nossa
fé. Maria e os santos são janelas para Cristo.
É, assim, que o padre iniciou e conduziu sua homilia: a salvação vem de Cristo e a fé está centrada nele, que, ressuscitado, vive.
À pergunta do padre, não faço uma resposta pessoal, mas tomo a liberdade de reproduzir um artigo publicado na Revista "Mundo e Missão", porque, abrangente, responde à essa indagação, remete a passagens da Sacrosanctum Concilium (SC) e orienta equipes de liturgia, ou de celebração, para outros mais aspectos da Palavra proclamada na celebração da Eucaristia, ou da Missa.
"Sentir Deus falando
um sagrado direito do povo na missa
por Frei José Ariovaldo da Silva, Ofm
Na
liturgia, sobretudo na missa, Cristo está presente de várias maneiras.
Uma delas é quando se lêem as Escrituras. Quando se fazem as leituras,
se canta o salmo e se proclama o Evangelho, é Cristo mesmo que se
comunica com seu povo reunido.
Não
é um livro e nem são palavras que se lêem, mas é a Palavra viva (Cristo
mesmo!) que se anuncia como Palavra de vida para todos. É o que nos
ensina a Igreja. É só conferir os n.7 e 33 da Constituição sobre a
Sagrada Liturgia (SC) do Concílio Vaticano II. Afirma textualmente o
documento: "Na liturgia Deus fala a seu povo. Cristo ainda anuncia o
Evangelho" (SC 33).
Então
eu pergunto: Quando você vai à missa (ou mesmo numa celebração
dominical da Palavra), dá para sentir de fato que é Deus que está
falando com seu povo, quando se lêem as Escrituras? Ou tem alguma coisa
(algum "ruído") que atrapalha?... E olha! Você tem todo direito (e até
obrigação!) de sentir Deus falando com você (veja o n.14 da citada
Constituição)!
Você
está conseguindo desfrutar desse sagrado direito? Pois bem, para que
você possa, na missa, desfrutar do sagrado direito de sentir Cristo
falando com você e com todo o povo reunido, seguem aqui algumas
recomendações para as equipes de liturgia, para os leitores, para os
salmistas e para os padres:
Quem
vai ler deve preparar-se espiritualmente para a leitura. Ler antes.
Meditar. Orar em cima da Palavra. Deixar ela tomar conta de todo o seu
ser (corpo, mente, coração, emoções). O leitor e a leitora devem ser os
primeiros ouvintes da Palavra. E também devem se preparar tecnicamente,
através de ensaios, cursos e avaliações para aperfeiçoamento. É muito
importante.
Atenção
equipes de liturgia! Evitar pegar pessoas na última hora para ler, em
cima da hora, de improviso. Inclusive se recomenda que a leitura seja
entregue pela equipe com bastante antecedência, para ser preparada com
calma, até mesmo durante toda a semana.
Recomenda-se
que a proclamação da Palavra seja feita de um lugar apropriado, só para
ela: de uma estante especial, grande, bonita, distinta, que
oficialmente chamamos de ambão. Isso para enfatizar o "lugar" de onde
Deus fala para o seu povo. Por isso, para dar distinção à Palavra, não
usar este espaço para outras coisas. Comentários e avisos sejam feitos
em outro lugar.
A
Igreja orienta que as leituras sejam feitas diretamente do livro de
leituras (chamado de lecionário). Isso por causa de dignidade da Palavra
de Deus. O folheto é uma espécie de descartável. Hoje se usa e amanhã é
jogado fora, vai para o lixo. A Palavra não é "descartável". É eterna. É
Cristo. Por isso, por ser eterna, convém que ela seja proclamada
diretamente do livro (não-descartável). A dignidade da Palavra exige que
se evite o "ruído" do uso de "descartáveis" para a sua proclamação.
Recomenda-se
também que, ao ouvir a Palavra (seja nas leituras e no canto do salmo,
como, sobretudo na proclamação do Evangelho), o povo não fique
acompanhando pelo folheto. A Palavra é para ser "ouvida"! Deus fala e
você ouve... Quando alguém fala com você (ainda mais quando é Deus quem
fala!), você fica de olho grudado no jornal? Evidente que não!
É
questão até de educação. Quando Deus fala para você, desgrude o olho do
jornal. Apenas olhe para frente (para o leitor ou leitora) e escute,
"ouça" o que o Senhor diz! O ideal seria que os folhetos nem trouxessem
os textos das leituras, do salmo e do evangelho. Exatamente para ajudar
as pessoas a exercer o seu sagrado direito de realmente sentir Deus
falando.
Quem proclama a Palavra, ao fazer as leituras,
faça-o com voz clara (para todos ouvirem!), devagar, pausadamente,
respeitando as pontuações. E, sobretudo, ler com espiritualidade,
vivenciando o que lê, colocando emoção no que lê. Evite-se o "ruído" da
leitura rápida demais, em voz baixa, sem pontuação e, sobretudo, sem
espiritualidade.
A dignidade da Palavra exige também,
da parte de quem a lê, uma postura digna. O leitor (ou leitora) fique
apoiado (a) sobre os dois pés, exatamente para expressar a firmeza desta
rocha que é a Palavra. Por isso, evite-se o "ruído" de permanecer
apoiado (a) sobre um pé só (com o outro pé para trás, ou para frente).
E
mais: ao ler, olhar com carinho para os ouvintes, como Deus olha para o
seu povo. No olhar de quem lê, os ouvintes querem sentir o olhar de
Deus. Evite-se, portanto, o "ruído" de ficar com o olhar preso só no
livro. E mais: em muitas comunidades no Brasil, quem vai fazer a leitura
já coloca uma veste própria para o exercício deste ministério.
Não
ler os títulos orientativos, tais como: "Primeira leitura", "Segunda
leitura", "Salmo responsorial", "Evangelho". Isso não é Palavra de Deus.
São apenas títulos para não se perder. Quando estes títulos são lidos,
quebra-se o ritmo e a harmonia da escuta da Palavra. Evite-se também
este "ruído". Nunca se diga o nome da pessoa que vai fazer a leitura.
Dizer
o nome da pessoa significa dar destaque à pessoa. Na hora de fazer a
leitura, quem deve estar em destaque é, acima de tudo, a Palavra! Toda a
atenção tem que estar centrada é na Palavra. Assim sendo, dizer o nome
de quem vai ler significa, de certa maneira, "roubar a cena" da Palavra.
É um "ruído" a mais que desvia a atenção do centro, que é Cristo
falando para o seu povo.
Quando termina a leitura,
diga-se "Palavra do Senhor", ou "Palavra da Salvação" (no caso do
Evangelho), no singular. Por quê? Porque é Cristo-Palavra que foi
proclamado. Por isso, evite-se o ruído de dizer "Palavras do Senhor" ou
"Palavras da Salvação" (no plural). Pois não são "palavras" que são
lidas, mas é "a Palavra" (Cristo) que é proclamada. Outra coisa: faça-se
uma pequena pausa antes de dizer "Palavra do Senhor" ou "Palavra da
Salvação". Isso ajuda a vivenciar melhor o que foi lido e ouvido.
Enfim,
que tal implementar, nas dioceses, paróquias e, até mesmo, em
institutos teológicos e pastorais, escolas de preparação para leitores,
como era costume em certas comunidades dos primeiros séculos do
cristianismo!... Um maravilhoso sinal de que a Palavra na Liturgia é de
fato levada a sério, no mesmo nível como a sério é levada a Eucaristia.
Eis
algumas recomendações úteis para que o povo possa viver mais plenamente
o seu sagrado direito de sentir Deus falando, quando se lêem as
Escrituras na missa. Queira Deus que isso aconteça em nossas
comunidades. Afinal, é o grande sonho do Concílio Vaticano II, 40 anos
já passados."
Leia mais:
Fonte do texto reproduzido:
http://www.pime.org.br/mundoemissao/teologiadeus2.htm
Fonte da imagem:
http://padretelmofigueiredo.blogspot.com.br/2013/01/3-domingo-do-tempo-comum-ano-c-homilia.html
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