sexta-feira, 29 de junho de 2007

Bento XVI: os dois modos de ver e conhecer Jesus

Na solenidade de São Pedro e São Paulo, hoje (29/6) celebrada na Praça de São Pedro, o Papa, mais uma vez, se posicionou contra o relativismo, ou melhor, contra aqueles que consideram Cristo como mais um entre os fundadores de grandes religiões ou mais um entre os grandes sábios da história.

Para Bento XVI há dois modos de ver e conhecer Jesus. O da multidão, cujo ver e conhecer é mais superficial; e o dos discípulos, cujo ver e conhecer é mais penetrante e autêntico.

A colocação feita pelo Papa me leva ao Evangelho de Mateus, capítulo 16, versículos 13 a 17. Nesta passagem evangélica distingue-se aquilo que os homens em geral dizem e aquilo que os discípulos (círculo daqueles que seguem Jesus) dizem. Os primeiros vagueiam na concepção sobre Jesus. Estes (discípulos), ao contrário, o fazem (na pessoa de Pedro) de modo seguro e profundamente bíblico : "Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo".

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quinta-feira, 28 de junho de 2007

Ano Paulino: 28/6/2008 a 29/6/2009

Bento XVI convocou nesta data (28/6), em Roma, um ano jubilar dedicado a São Paulo, o apóstolo das gentes, que vai de 28 de junho de 2008 a 29 de junho de 2009.

A convocação do Ano Paulino aconteceu na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, na celebração das primeiras vésperas da solenidade dos apóstolos São Pedro e São Paulo, patronos da cidade de Roma.

Roma, onde se conserva sob o altar da referida Basílica o sarcófago com os restos mortais de São Paulo (conforme a tradição e parecer de especialistas), será o local privilegiado para a celebração do Ano Paulino: série de celebrações litúrgicas, culturais e ecumênicas, iniciativas pastorais e sociais, inspiradas na espiritualidade do apóstolo. E peregrinações para visita ao túmulo de São Paulo, em Roma.

O Papa enfatiza também a "dimensão ecumênica" do evento, posto que o apóstolo comprometeu-se em levar a Boa Nova a todos os povos e batalhou pela unidade e concórdia de todos os seguidores de Cristo.

Nas dioceses, paróquias e todos os lugares que levem o nome do apóstolo Paulo ou nele e no seu ensinamento se inspirem poderão realizar atividades análogas as de Roma.

Parece-me que paróquias etc., mesmo que não levem o nome do apóstolo, não estão impedidas de fazer semelhantes realizações, uma vez que, em verdade, os cristãos não deixam de se inspirar na figura e no ensinamento de São Paulo.

Segundo o padre Edmund Power, osb, abade da Abadia de São Paulo Fora dos Muros, o Ano Paulino "constitui um acontecimento 'espiritual' para todo o cristianismo". Leia mais aqui.

O Ano Paulino tem uma dimensão tal que ultrapassa os muros do catolicismo romano.

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quarta-feira, 27 de junho de 2007

Professor universitário católico: algo que o identifica


O professor Joan-Andreu Rocha Scarpetta, teólogo e historiador, apresentou na Sala Magna da Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, em evento patrocinado pela Conferência Episcopal Espanhola, realizada no dia 23/6 (sábado), quatro elementos que hoje conferem caracterização à identidade do professor universitário católico, quais sejam:

. otimismo antropológico;
. visão sacramental do mundo;
. tensão existente entre tradição e razão; e
. unidade do saber.

Como a universidade católica se encarrega da formação integral do homem, não é demasia que atualmente os formadores tenham requisitos, tais como os expostos, que os diferenciem perante os demais membros do magistério de qualquer outro tipo de universidade.

Leia mais aqui.

Fonte da imagem: http://topazio1950.blogs.sapo.pt/

terça-feira, 26 de junho de 2007

Livro do Papa: edição nacional

O livro Jesus de Nazaré (título original Jesus von Nazareth), do teólogo Joseph Ratzinger - Bento XVI, tradução de José Jacinto Ferreira de Farias, SCJ, editado pela Editora Planeta do Brasil Ltda., já chegou às livrarias desde a semana passada.

Este livro é a primeira parte, que apresenta a figura e a mensagem de Jesus no seu ministério. A segunda parte, que consistirá em outro livro, conforme o Papa teólogo expõe no prefácio, cuidará das histórias da infância de Jesus, e será oportunamente editada e entregue ao público.

No prefácio, o teólogo menciona:

"Penso que precisamente este Jesus - o dos Evangelhos - é uma figura racional e manifestamente histórica" [pág. 17].

"Não preciso certamente dizer que este livro não é de modo algum um ato de magistério, mas unicamente expressão da minha procura pessoal "do rosto do Senhor" (cf. Sl. 27,8)" [pág. 19].

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Apóstolo Paulo: um ano só seu

O Papa Bento XVI proclamará no dia 28 de junho, quinta-feira, um ano especialmente dedicado a São Paulo, em recordação aos 2.000 anos do nascimento do apóstolo dos gentios. Segundo especialistas, São Paulo nasceu entre o ano 6 e 10 depois de Cristo.

A proclamação será feita na Basílica de São Paulo Fora dos Muros em Roma, por ocasião da celebração das Vésperas, às 17,30 horas.

Bento XVI vem, nas intervenções das audiências gerais das quartas-feiras, ministrando catequeses enfocando os vultos formadores do cristianismo, entre eles o apóstolo Paulo. E, longamente, o Papa se deteve não só na pessoa do apóstolo Paulo, mas também no seu pensamento teológico: Cristo como centro da vida do apóstolo, o Espírito Santo e a vida na igreja. Parece-me que todo esse elenco de quatro catequeses estava a sinalizar a fundamental importância do apóstolo das gentes para o cristianismo, justificando a proclamação de um ano especialmente dedicado a São Paulo.

Maiores detalhes virão, por certo, quando o Papa fizer a proclamação.

Saiba mais aqui.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Bispo ameaçado: CNBB expressa solidariedade

O Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em reunião realizada ontem, dia 20 de junho, enviou carta a Dom Manoel João Francisco, Bispo da Diocese de Chapecó, em Santa Catarina, expressando-lhe a solidariedade da entidade.

A carta vai subscrita pelo Presidente da CNBB, Dom Gerado Lyrio Rocha, pelo Vice-Presidente, Dom Luiz Soares Vieira, e pelo Secretário-Geral, Dom Dimas Lara Barbosa.

Como postado anteriormente, o Bispo de Chapecó, Dom Manoel João Francisco, vem recebendo ameaças de morte, pelo fato de colocar-se a favor dos povos indígenas, cuja situação reclama uma solução justa tanto para os índios quanto para os pequenos agricultores.

Sobre a carta da CNBB ao Bispo ameaçado leia aqui.

Fonte da imagem: www.cnbb.org.br

terça-feira, 19 de junho de 2007

Bispo de Chapecó ameaçado de morte

Dom Manoel João Francisco, Bispo de Chapecó, no Estado de Santa Catarina, está sendo ameaçado de morte.

Os profetas, tanto no passado quanto no presente, incomodaram e incomodam àqueles que praticam injustiças contra os mais fracos. E é a favor destes que se coloca o Bispo Dom Manoel João Fancisco, em defesa dos índios.

Veja mais aqui.

Foto: www.paulinas.org.br

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Quadrinhos Mangá despertam vocações

A Igreja Católica na Inglaterra e Gales vem promovendo o incentivo às vocações religiosas, entre os jovens, com a utilização de história em quadrinhos tipo mangá (mangá é a história em quadrinhos de origem japonesa).

Clique aqui para conhecer essa novidade que já vem proporcionando resultados satisfatórios.

E aqui para ver os quadrinhos.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Da missa assistida à missa celebrada - parte 2 de 2

3. Houveram reações a esse deslocamento na compreensão e na vivência do mistério pascal celebrado. Uma dessas reações levou o nome de movimento litúrgico.

Movimento litúrgico é uma reação que se inicia nos ambientes monásticos no século XIX e ganha impulso com os Papas Pio X (1903-1914) e Pio XII (1939-1958).

A coroação do ideário do movimento litúrgico se deu com o Concílio Vaticano II, ao aprovar a Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia (SC), tornada pública em 4 de dezembro de 1963 pelo Papa Paulo VI. Foi o primeiro documento aprovado pelos padres conciliares, levando a justificar o quanto amadurecido era, à época, o ideário do movimento litúrgico.

Segundo Frei José Ariovaldo da Silva, OFM, “a Igreja, mediante a Constituição Sacrosanctum Concilium, tomou uma importante decisão pastoral: resgatar o essencial que se havia ‘perdido’ e recolocá-lo no seu eixo central.” (Sacrosanctum Concilium e reforma litúrgica pós-conciliar no Brasil, in A Sagrada Liturgia 40 anos depois, da Coleção Estudos da CNBB nº 87, Paulus, 2003, pág. 39).

O resgate do essencial, ou seja, do que “se havia perdido”, importa numa tomada de conscientização não para uma nova face da igreja, mas sim para a redescoberta daquela face que ficara por longo período, quase todo o segundo milênio, na sombra.

Nesse sentido, fala-se em resgates, aliás, necessários para a redescoberta da face da igreja que estivera na sombra. Para Frei José Ariovaldo da Silva, OFM, na obra mencionada (pág. 39), com a Constituição sobre a Sagrada Liturgia (SC):

Resgata-se a centralidade do mistério pascal na celebração da Liturgia (...). Resgata-se a vivência e compreensão da Liturgia como celebração do mistério pascal, como momento histórico da salvação. Resgata-se a Liturgia como a fonte mais excelente de espiritualidade cristã.

Resgata-se a linguagem simbólico-sacramental de toda a Liturgia (...). E resgata-se a compreensão dos sacramentos como celebração do mistério pascal

Resgata-se a dimensão eclesial-comunitária da Liturgia (...).


Resgata-se a prioridade da participação plena, consciente e ativa na Liturgia (...).


Resgata-se a tradição antiga de uma Liturgia que sabe se adaptar à índole dos difer
entes povos.

Um retorno às fontes (períodos: apostólico e patrístico).

Conscientizar de que o mistério pascal de Cristo é o eixo central da missa, e não as devoções ao Santíssimo Sacramento e aos santos. E conscientizar de que o Espírito Santo, desde o batismo de Jesus e mormente a partir do Pentecostes, é como que a alma da celebração litúrgica.

No retorno ao mistério, onde opera o Espírito, encontramos o Cristo, posto que, como ensinava São Leão Magno (século V): “aquilo que era visível no nosso Salvador passou para os mistérios” (Serm. 74,2: PL 54,398A, citado pelo Catecismo da Igreja Católica, n. 1115). Ou, na tradução da Antologia Litúrgica (Fátima, Secretariado Nacional de Liturgia, org. José de Leão Cordeiro, pág. 1031): “o que na vida do nosso Redentor era visível passou para os ritos sacramentais” (Papa Leão Magno, Sermones de Ascensione Domini [2] (= PL 54, 394-400; PLS 3,337;CCL 138 A; SCh74 bis; LH,II)).

“Nós encontramos nos mistérios do culto cristão a pessoa de Cristo, a sua obra salvífica, a sua eficácia de graça: “Eu te encontro nos teus mistérios” (AGOSTINHO, Apologia Prophetae David, 58)” (Prof. Dr. Pe. Pedro Alberto Kunrath, PUCRS, A Igreja e a Oração Litúrgica como Celebração do Mistério, in Teocomunicação Rev. Trim. de Teologia, editada pela PUCRS, Porto Alegre, v. 35, nº 149, Set. 2005, p. 481-495, nota de rodapé nº 26, à pág. 491).

Redescobrir a igreja como corpo místico de Cristo. Cristo é a Cabeça e os fiéis os seus membros. A liturgia tem sua dimensão divina e humana. Essa redescoberta dá enfoque à dimensão eclesial-comunitária, com destaque para a assembléia (povo convocado). É toda a assembléia, presidida pelo padre, que celebra. Deixa de ser o padre o único celebrante.

Hoje, mais do que participação ativa, consciente e plena, fala-se em celebrar. Para uma ou outra categoria passa-se pela formação litúrgica, que deve ser objeto de uma Pastoral Litúrgica.

Para Frei Alberto Beckhäuser, OFM, “a participação ativa, consciente e plena constituem requisitos para se obter uma participação frutuosa e eficaz.” (Liturgia na Vida da Igreja, in A Sagrada Liturgia 40 anos depois, da Coleção de Estudos da CNBB nº 87, Paulus, 2003, pág. 86).

A Constituição Sacrosanctum Concilum (SC), em verdade, preceitua que “os fiéis participem dela [celebração] com conhecimento de causa, ativa e frutuosamente.” (n. 11). Adiante, no número 14, a SC coloca novamente o tema: “que todos os fiéis sejam levados àquela plena, cônscia e ativa participação das celebrações litúrgicas.” E mais: “Cumpre que essa participação plena e ativa de todo o povo seja diligentemente considerada na reforma e no incremento da Sagrada Liturgia” (SC, n. 14).

Com o advento do Concílio Vaticano II e a implantação das diretrizes contempladas na Constituição Sacrosanctum Concilium, a Igreja inicia a tarefa de fazer a passagem da missa assistida para a missa celebrada. A missa esta que contempla, como diretriz forte, a participação do povo como sujeito da celebração.

Agora, mãos à obra, pois, como dizia o Papa Paulo VI: “A tarefa do Concílio Ecumênico não está completamente terminada com a promulgação de seus documentos”.

Nesse sentido, vários documentos têm sido emitidos pelos Papas e Cúria Romana, assim como pela CNBB, para a implantação das diretrizes da Sacrosanctum Concilium.

Missal Romano, Lecionários e outros mais livros litúrgicos são adaptados ou elaborados segundo os desígnios do Concílio Vaticano II, traduzidos para a língua portuguesa.

Na apresentação da versão brasileira da segunda edição típica do Missal Romano, Dom Clemente José Carlos Isnard, OSB, então presidente da Comissão Episcopal de Liturgia, enfatizando a importância do novo Missal e da recordação do conteúdo da sua Instrução Geral, assim como da colocação em prática do Documento 43 da CNBB, destaca: “Não basta ter livros novos, é preciso renovar a vivência”.

Renovar a vivência, eis o grande desafio transformador. Entretanto, as normas e os livros ficarão apenas no papel, se pessoas não se qualificarem para a redescoberta da liturgia como sendo de natureza divina e humana, como assim celebrá-la e vivê-la.

Se a liturgia celebrativa fosse apenas divina, seria algo abstrato, não palpável ao ser humano. E, se fosse apenas humana, a celebração não passaria de evento comemorativo de tal e qual fato ocorrido no passado.

Liturgia em ação é celebração, e celebração só se faz com pessoas celebrantes, ativas.

Foto: Missa de encerramento da Semana de Bento 2006, em 11/10/2006, na Igreja Matriz Santo Antônio, em Bento Gonçalves - RS. Crédito da foto: Leandro Bortollozo.

terça-feira, 5 de junho de 2007

Da missa assistida à missa celebrada - parte 1 de 2

Fazei isto em minha memória (1Cor 11, 24-25)


Recordo-me que meu professor de português, lá pela década de 50 do século passado, ao dar exemplo de verbo transitivo de dupla regência mencionava o verbo "assistir". Para a regência direta (transitivo direto): "o médico assiste o doente", isto é, o médico socorre o paciente; o médico age. Para a regência indireta (transitivo indireto): "você assiste à missa" (ou eu assisto à missa), isto é, está presente ao ato litúrgico; não age.

Os exemplos - muito compreensíveis para a época - objetivavam demonstrar que num exemplo, quando o objeto é direto, o sujeito da frase tem um comportamento ativo, participa da ação. N'outro, quanto o objeto é indireto, o sujeito da frase tem um comportamento meramente passivo, de nada participa, apenas vê.

Com esse ilustrativo exemplo, pretendo falar de uma mudança: de sujeito passivo para sujeito ativo da missa.

A figura abaixo, que ilustra o texto, dá uma visão da missa dita pelo padre, e assistida pelo povo, que era modelo celebrativo anterior à implementação da Sacrosanctum Concilium, a Constituição sobre a Sagrada Liturgia, do Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965).

1. Antes, porém, uma sucinta abordagem sobre a fração do pão, ou ceia do Senhor, no alvorecer do cristianismo.

Os cristãos se reuniam para celebrar a ceia instituída por Cristo, dela participando comunitária e ativamente. E tão comunitários eram que procuravam ter tudo em comum.

O povo reunido, juntamente com o pastor que a presidia, era verdadeiramente o ator da celebração. E os cristãos tinham consciência de ser um povo sacerdotal (povo escolhido e mediador entre Deus e o mundo) numa comunidade toda ministerial, isto é, serviçal segundo o carisma ou dom de cada um.

Os cristãos celebravam e viviam o memorial da Paixão, Morte e Ressurreição do Cristo. Cristo era a centralidade da celebração.

O valor e a dignidade dada à ceia do Senhor levaram os primeiros cristãos a se reunirem festivamente para celebrá-la no próprio dia da ressurreição do Senhor, denominado Domingo. O ato de reunir-se no domingo significava celebrar a eucaristia, tão vital para os primeiros cristãos.

Os cristãos de Abitinas (que ficava na África proconsular – província do Império Romano, correspondendo hoje ao norte da Tunísia e à costa mediterrânica da Líbia), no ano 304, foram martirizados pelo fato de se reunirem para celebrarem o dominicum. Dizia um deles (Emérito) ao procônsul romano ao ser interrogado: “Não podia [proibi-los de se reunirem], porque não podemos viver sem o dominicum...” (Actas dos Mártires in Antologia Litúrgica, Fátima, Secretariado Nacional de Liturgia, org. José de Leão Cordeiro, págs. 580-583).

A vida era modelada pela eucaristia celebrada – eucaristia vivida. A palavra celebrada era penetrante na vida dos cristãos. Escritas no coração, e não numa Bíblia muitas vezes fechada, elas também modelavam a vida dos cristãos – palavra vivida. Dizia outro deles (Ampélio) ao mesmo procônsul romano ao ser interrogado: “Sim, reuni-me com os meus irmãos, celebrei o dominicum e tenho comigo as Escrituras, mas escritas no meu coração. Dou-Te graças, Cristo. Escuta-me, Cristo” (ob. cit.).

“Fazei isto em minha memória” era não apenas uma fórmula eucarística, mas também uma fórmula de vida.

2. Entretanto: “No segundo milênio da era cristã (por influência remota dos povos franco-germânicos, a partir do século IX, e pelo posterior centralismo romano) aconteceu um impressionante deslocamento de eixo na compreensão e vivência da Liturgia.” (Frei José Ariovaldo da Silva, OFM, Sacrosanctum Concilium e reforma litúrgica pós-conciliar no Brasil, in A Sagrada Liturgia 40 anos depois, da coleção “Estudos da CNBB” nº 87, Paulus, 2003, pág. 36). E o articulista esclarece esse deslocamento de eixo: “A centralidade da Liturgia como celebração do mistério pascal cedeu lugar às devoções (devoção aos santos e ao Santíssimo Sacramento). As devoções passaram a ocupar o lugar central” (ob. cit., pág. 37).

Segue-se que a assembléia deixou de ser celebrante. E o padre assumiu o papel de único celebrante. A missa passou a ser coisa do padre, nele estava centrada a liturgia. A estrutura da Igreja favoreceu isso: altar bem mais elevado e distante do povo. E o padre, de costas voltadas para o povo, rezava a missa na língua litúrgica – o latim. A palavra não era mais proclamada, mas apenas lida pelo padre para si mesmo, em voz baixa. O próprio padre tornara-se refém do ritualismo: qualquer deslize nas palavras e nos herméticos gestos podia afetar a eficácia do ato.

Com o suceder dos tempos, o latim deixou de ser a língua comumente falada, cedendo lugar as suas variantes hoje conhecidas (italiano, castelhano, português...). Mas a liturgia da missa continuou sendo em latim.

Diante dessa mutação do latim, como não foi feita a formação do povo para a língua litúrgica, o povo foi deixando de compreender as palavras pronunciadas na missa. Não obstante, o povo continuou tendo por ela forte atração devocional. E o povo acrescentava outras devoções no curso da missa, em particular, a reza individual do terço.

Para o povo a consagração, ou melhor, a elevação da hóstia grande, passou a ser o momento privilegiado da missa. Esse momento era assinalado pelo toque da campainha. O padre, como se disse, de costas voltadas para o povo, elevava a hóstia grande bem acima de sua cabeça, para que pudesse ser vista. Para o povo essa era a centralidade da missa: ver e adorar a hóstia consagrada.

Em resumo. O mistério pascal celebrado deixa de ser a fonte da espiritualidade. Cede lugar para as devoções populares. A eucaristia não é mais uma festa, onde todos celebram.

domingo, 3 de junho de 2007

Sou Católico - Vivo a minha Fé

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) editou um pequeno livro, mas de grande significado para o cristão (católico romano), denominado "Sou Católico - Vivo a minha Fé". O momento é de relativismo dos valores como contínua e veementemente vem sendo denunciado pelo Papa Bento XVI.

O que é relativo não é absoluto. Não é uma verdade por inteiro. É mais ou menos.

A cultura do relativismo entra também na religião. Daí, o chamado kit religioso: faço a minha religião, com os meus ritos, seleciono aquilo que, de várias religiões ou de filosofias da vida, mais satisfaça à minha subjetividade.

É relativo estar na Igreja ou não. É relativo assumir compromisso.

Nesse sentido, a insistência da busca da identidade cristã, para que ela não se perca no oceano do relativismo ou não se desfigure diante de tudo que passa a ser mais ou menos.

O livro da CNBB está aí. Colocado em boa hora nas mãos de todo o povo de Deus, para que se tenha um "conhecimento inteligente e afetivo da fé".

"Sou Católico". Não apenas católico, também "Vivo a minha Fé".

sábado, 2 de junho de 2007

Os evangelhos perdidos

Darrell L. Bock, professor e pesquisador no Seminário Teológico de Dallas, no Texas (EUA), já conhecido do público brasileiro pelo seu Quebrando o Código Da Vinci, volta à tona, agora, com o novo livro Os evangelhos perdidos, em tradução de Emirson Justino (Editora Thomas Nelson Brasil, Rio, 2007). Além de suas atribuições acadêmicas, é missionário da Igreja da Fraternidade de Trinity, em Richardson, Texas.

Pois bem, o livro Os evangelhos perdidos, com o subtítulo A verdade por trás dos textos que não entraram na Bíblia, cuja edição original foi lançada em 2006 pela Thomas Nelson, Inc., cuida de um meditado e longo estudo, fruto final da pesquisa realizada na Universidade de Tübingen, na Alemanha, sobre os chamados novos materiais (documentos que não estão na Bíblia, ou, especificamente, no Novo Testamento), em paralelo com os materiais tradicionais (documentos que estão no Novo Testamento).


A obra, na introdução, começa com uma indagação: "As novas descobertas indicam que o Cristianismo precisa de uma reforma?". A leitura é estimulada, e até a vista dessa indagação, pela leveza do texto; e, ao término de cada capítulo, vem um conjunto de perguntas para estudo.

A promoção com status de significativa relevância desses evangelhos perdidos (novos materiais) vem sendo dada pela chamada nova escola, cujo mentor é Walter Bauer, acadêmico alemão, que, em 1934, lançou um livro, intitulado em português Ortodoxia e heresia no Cristianismo primitivo.

A resposta à indagação inicial, o teólogo Darrell L. Bock assim sintetiza: "O que precisa de uma reforma não é o Cristianismo, mas a nova escola".

Confira: vale a pena ler o livro, para um crescimento na formação cristã e, como diz, o apóstolo Pedro: estai sempre prontos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que a pedir (1Pd 3, 15).

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sexta-feira, 1 de junho de 2007

Bento XVI se assemelha com os "Padres da Igreja"

Para Julián Herranz, cardeal espanhol e eleitor do último conclave que elegeu o cardeal Joseph Ratzinger, "as circunstâncias históricas da Igreja e do mundo e as características pessoais do Papa Bento XVI, o assemelham, espiritual e pastoralmente, 'com os Padres da Igreja'."

Confira aqui não só os desafios que fazem Bento XVI assemelhar-se com os "Padres de Igreja", mas também os quatro fatores que concorreram para a sua eleição.