sábado, 14 de julho de 2007

Pálio: insígnia litúrgica


Pálio é uma entre outras palavras do latim que fazem parte do patrimônio linguístico da religião católica. Vem de pallium, palavra com a qual se designava o "casaco retangular romano" (1).

O pálio, em forma de toldo (feito de tecido com franjas nas bordas), com quatro ou seis hastes, é geralmente usado na procissão de Corpus Christi (primeira imagem). Neste caso, o pálio simboliza a dignidade régia de Cristo. E o pálio, em forma de tira circular (colar), com duas faixas pendentes, uma sobre o peito e outra sobre as costas, é, originalmente, de uso do Papa, com seis cruzes. É deste que nos ocuparemos a partir de agora (segunda imagem).

Atualmente, o Papa concede o pálio somente aos arcebispos metropolitanos, designados simplesmente metropolitas (de metróple, cidade-padrão ou cidade principal de uma região), cujo pedido deve feito ao Papa como estabelecido pelo cânone n. 437 do Código de Direito Canônico (2). Por isso, denomina-se pálio arcebispal, com as seis cruzes bordadas em lã preta (para o pálio do Papa as seis cruzes podem ser pretas ou vermelhas). Faz sentido que o Papa use pálio distinto daqueles por ele conferidos aos arcebispos, como o fez recentemente Bento XVI: pálio mais comprido, com as seis cruzes em vermelho, e faixas pendentes com pontas de seda preta.

É o símbolo do poder dos arcebispos metropolitanos dentro da chamada província eclesiástica (agrupamento de dioceses vizinhas) e de comunhão com o Papa. É pessoal e intransferível. Se o Arcebispo mudar para outra sede metropolitana, necessitará de novo pálio, conforme rege o mesmo Código, em seu canône n. 437, parágrafo 3º.

O Papa concede também o pálio ao Patriarca Latino de Jerusalém.

O pálio só pode ser usado nas celebrações litúrgicas. O Papa pode usá-lo em qualquer parte do globo, em razão do poder de jurisdição universal que ele detém. O Arcebispo pode usá-lo em todas as igrejas da província eclesiástica por ele presidida, porém não fora do território da província.

O pálio é confeccionado pelas monjas beneditinas do Mosteiro de Santa Cecília, em Roma. É feito com lã branca de cordeiros, que são ofertados anualmente ao papa pelas jovens romanas, na festa de Santa Inês (21 de janeiro). Os pálios, em número correspondente aos novos arcebispos metropolitanos, são abençoados pelo Papa nas Primeiras Vésperas da Solenidade de São Pedro e São Paulo e são conservados em uma urna especial no Altar da Confissão da Basílica Vaticana (onde estão as relíquias do Apóstolo São Pedro). E, no dia seguinte, na celebração da solenidade dos Apóstolos São Pedro e São Paulo (29/6), são impostos (entregues) aos arcebispos pelo Papa.

O simbolismo do pálio é significativo. Tecido com lã de cordeiro simboliza a ovelha perdida. Posto o pálio sobre os ombros simboliza o pastoreio, ação própria do pastor: carregar a ovelha frágil, doente.

No tocante ao simbolismo do pálio, é sugestivo reler a homilia de Sua Santidade Bento XVI, por ocasião da celebração da Santa Missa para início do Ministério Petrino do Bispo de Roma, em 24 de abril de 2005.


(1) cf. Pequeno Vocabulário Litúrgico, org. por A. Nosetti e C. Cibien, in Dicionário de Liturgia, org. por Domenico Sartore e Achille M. Triacca, São Paulo, Paulus, 2ª ed., 2001, p. 1272.

(2) Cân. 437 - § 1. O Metropolita, dentro do prazo de três meses após a recepção da consagração episcopal, ou, se já tiver sido consagrado, após a provisão canônica, tem a obrigação de pedir ao Romano Pontífice, por si mesmo ou por procurador, o pálio, com o qual se indica o poder de que está revestido o Metropolita na própria província, em comunhão com a Igreja Romana.
§ 2. De acordo com as leis litúrgicas, o Metropolita pode usar o pálio dentro de qualquer igreja da província eclesiástica a que preside, mas de modo nenhum fora desta, nem mesmo com o consentimento do Bispo diocesano.
§ 3. O Metropolita, se for transferido para outra sede metropolitana, precisa de novo pálio.


Fonte da primeira imagem: http://www.embuguacu.sp.gov.br/

Fonte da segunda imagem: http://tribunapopular.wordpress.com/

sexta-feira, 6 de julho de 2007

A Sucessão no Vaticano

Um bom livro no mercado: A Sucessão no Vaticano, escrito pelo jornalista Wellington Miareli Mesquita, publicado este ano pela Editora Lindscape, já em segunda edição.

O autor está credenciado para tanto. É jornalista graduado pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas e pós-graduado em Filosofia Social pela Pontifícia Universidade Urbaniana, em Roma. Trabalhou no programa brasileiro da Rádio Vaticano, em Roma.

O livro abrange os últimos dias do Papa João Paulo II, sua morte e funeral; o conclave para eleição do novo papa; a eleição do Cardeal Joseph Ratzinger - Bento XVI; início do pontificado de Bento XVI e os primeiros passos do novo Papa.

É um livro de leitura atraente. Contém algumas fotografias em preto e branco. Dá vontade de lê-lo de fio a pavio o mais rápido possível. Há termos que, para o público em geral, mereceriam algumas notas de rodapé explicativas, como, por exemplo, Trophaeum Apóstolico, não obstante o livro de 192 páginas já contenha considerável número de notas (157).

Na página 120, ao enumerar cardeais eleitores por área geográfica (abril de 2005) e por país, parece-me que houve um equívoco: se se aponta 58 cardeais eleitores para a Europa, não se poderia apontar igual número (por país) para a Itália, sendo que Espanha e Alemanha aparecem com 6 cardeais eleitores cada um, França, 5, e Polônia, 3. Ou o número é maior por área geográfica (Europa) e ou é menor por país (Itália).

Esses senões não obscurecem, de maneira alguma, a qualidade do livro.

Ao lê-lo você saberá, por exemplo, que João Paulo II, a princípio, em 1982, deixava em aberto a possibilidade de ser enterrado na Polônia, questão a ser decidida pelo Colégio Cardinalício, pelo metropolita de Cracóvia e pelo Conselho Geral do Episcopado da Polônia. Mas, dois anos depois, o Papa mudou de idéia, deixando a escolha do lugar do enterro a cargo exclusivo do Colégio Cardinalício (página 68).

Saberá que o Cardeal Ratzinger, agora Bento XVI, gosta de plantas e de gatos. Ele tinha em seu apartamento suas plantas e seu gato de estimação (página 162).

E saberá mais: no encontro na Universidade de Regensburg, na segunda viagem de Bento XVI à Alemanha, ao mencionar o diálogo entre o imperador bizantino Manuel II Paleólogo e um sábio persa, lá pelo século XIV, o Papa visava endereçar um recado claro a todos os fundamentalistas, inclusive cristãos. "As agências de notícias deram destaque à citação do papa omitindo todo o contexto em que foi proferida, esquecendo-se, por exemplo, de dizer que o próprio pontífice classificou como brusco e pesado o modo que o imperador se expressou" (página 185).

Por fim a mensagem de esperança do Cardeal Carlo Maria Martini: "Estou certo de que Bento XVI nos reservará muitas surpresas a respeito dos estereótipos com os quais foi definido às pressas" (página 154).

E, com certeza, uma das surpresas foi a visita de Bento XVI ao Brasil, deixando sua marca de simpatia e simplicidade, bem diferente do sisudo homem guardião da ortodoxia (ao menos era assim que boa parte da mídia o estereotipava).

Pois bem, o livro está aí. E boa leitura.

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