quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Maria deu à luz, Maria deu-nos a Luz

O povo que caminhava nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam no país da sombra da morte, uma luz resplandeceu. (Is 9,1)




Conhece-se Jesus a partir dos quatro Evangelhos. Pelo viés simplesmente histórico ("Jesus histórico"), recorre-se principalmente aos Evangelhos de Marcos, Mateus e Lucas, chamados sinóticos.

Pondere-se, porém, que Jesus, o Cristo, o Messias, o "Jesus histórico", outro não há senão o dos Evangelhos. A este respeito, depois de fazer indicações metodológicas que distinguem a figura de Jesus no Novo Testamento, Joseph Ratzinger - Bento XVI esclarece:

Para minha representação de Jesus, isto significa, principalmente, que eu confio nos Evangelhos. Naturalmente que se pressupõe tudo o que o Concílio e a moderna exegese nos dizem sobre os gêneros literários, sobre a intenção narrativa, sobre o contexto comunitário dos Evangelhos e o seu falar neste contexto vivo. Então, acolhendo tudo isto - tanto que foi possível -, quis tentar representar o Jesus dos Evangelhos como o Jesus real, como o "Jesus histórico" no sentido autêntico. Estou convencido, e espero que também o leitor possa ver, que esta figura é mais lógica e historicamente considerada mais compreensível do que as reconstruções com as quais fomos confrontados na últimas décadas. Penso que precisamente este Jesus - o dos Evangelhos - é uma figura racional e manifestamente histórica. (Jesus de Nazaré - Primeira Parte - Do Batismo no Jordão à Transfiguração, São Paulo, Planeta, 2007, p. 17)

O estudo dos Evangelhos proporciona, com autoridade, o conhecimento de Jesus. Entretanto, os Evangelhos não são escritos que ficam lá no passado. Ao contrário, são atuais e operantes. Os Evangelhos exercem uma ação atrativa destinando-se a fazer discípulo e a estabelecer uma relação do seu leitor com o Cristo que vive. Ou, nas precisas palavras de Joachim Gnilka:

É evidente que o estudo dos Evangelhos permite conhecer Jesus, tornar-se seu discípulo. Este é o objectivo dos Evangelhos. A sua intenção não é simplesmente evocar acontecimentos históricos, mas estabelecer, em primeiro lugar, uma ligação com o Cristo vivo. É importante que o leitor deste tipo de Evangelho tenha presente que não está diante de material passado, histórico, morto, mas sim com alguém que a pessoa sabe, na fé, que está vivo, que interpela a vida do leitor e que actua na comunidade. (Jesus de Nazaré - Mensagem e história, 1ª edição, Lisboa, Editorial Presença, 1999, p. 312).

Jesus nasceu em dado momento histórico, determinável. O Cardeal Ratzinger, hagiógrafo de Jesus dos Evangelhos, afirma:

Jesus não nasceu nem apareceu em público naquele indefinido "uma vez", típico do mito; mas pertence a um tempo, que pode datar com precisão, e a um ambiente geográfico exatamente definido; o universal e o concreto tocam-se mutuamente. (A infância de Jesus, São Paulo, Planeta, 2012, p. 57)

Pois bem, é no contexto histórico e geográfico indicado no Evangelho de Lucas (Lc 2, 1-14) que Jesus nasceu. E esse Evangelho corresponde ao elenco das leituras da Santa Missa na Noite do Natal do Senhor (Calendário Litúrgico: Ano B - São Marcos), celebrada universalmente na noite do dia 24 de dezembro de 2017.

O Papa Francisco inicia a sua homilia na solene celebração da Santa Missa na Noite do Natal do Senhor (Basílica de São Pedro, 24 de dezembro de 2017), realçando o duplo papel de Maria no nascimento de Jesus:

«Completaram-se os dias de [Maria] dar à luz e teve o seu filho primogênito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria» (Lc 2, 6-7). Com esta afirmação simples mas clara, Lucas leva-nos ao coração daquela noite santa: Maria deu à luz, Maria deu-nos a Luz. Uma narração simples para nos entranhar no acontecimento que muda para sempre a nossa história. Tudo, naquela noite, se tornava fonte de esperança.  

A homilia ocupa-se de quatro eixos: luz, esperança, fé e caridade. Repita-se: a homilia papal tem como ponto de partida Maria. A ação de Maria é dupla:

Maria deu à luz, Maria deu-nos a Luz.

A Luz com que somos presenteados por intermédio de Maria é o Cristo, Filho de Deus. Essa grande luz que ilumina a escuridão, que dissipa as trevas, remete-nos ao Mistério da Ressurreição, cujo símbolo é o Círio Pascal.


Leia mais:

Audiência Geral - Quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Qual é o sentido da ressurreição de Jesus para um cristão?


Fonte da imagem:
http://www.centroloyola.puc-rio.br/espiritualidade/retiro-o-caminho-da-luz-rumo-ao-coracao-de-deus/

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