quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja


Entre os dias 5 e 26 de outubro de 2008 será realizada, no Vaticano, a XII Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, cujo tema escolhido por Bento XVI e tornado público em 6 de outubro de 2006 é "A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja".

A seguir, o Conselho Ordinário da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos empenhou-se na preparação dos Lineamenta [1], documento que tem por finalidade apresentar brevemente o estado da questão sobre o importante tema da Palavra de Deus, indicar aspectos positivos na vida e na missão da Igreja, sem omitir certos aspectos problemáticos ou que, pelo menos, carecem de um aprofundamento para o bem da Igreja e da sua vida no mundo.

No dia 27 de abril de 2007, os Lineamenta foram apresentados na Sala de Imprensa da Santa Sé pelo Arcebispo Dom Nikola Eterovic, Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos, cujo discurso de apresentação pode ser lido aqui.

Evidentemente que os Lineamenta e o questionário conclusivo foram encaminhados pelo Vaticano a todas as dioceses, que deveriam encaminhar as respostas antes do fim do mês de novembro de 2007. O texto completo, em português, dos Lineamenta pode ser lido aqui.

Recebidas as respostas dadas pelas dioceses, o Conselho Ordinário da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos se encarregou de redigir o Instrumentum Laboris (instrumento ou documento de trabalho) para a assembléia sinodal, que, como dito, realizar-se-á entre os dias 5 e 26 de outubro de 2008, no Vaticano.

O tema do atual Sínodo dos Bispos - "A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja" - está em sintonia, como que em continuação, com o tema do Sínodo anterior - "A Eucaristia: fonte e cume da vida e da missão da Igreja" -, celebrado no Vaticano em outubro de 2005, convocado pelo então Papa João Paulo II e presidido por Bento XVI.

Um dos tópicos dos Lineamenta está grafado: "Jesus Cristo é a Palavra de Deus feita carne, a plenitude da Revelação". Ao lado do eixo central - a Ressurreição (1Cor 15,12-22) -, a expressão grafada é fundamental para o cristianismo, eis que "No princípio era a Palavra, e a Palavra estava junto de Deus, e a Palavra era Deus. E a Palavra se fez carne e veio morar entre nós" (Jo 1,1.14). E mais: "Muitas vezes e de muitos modos, Deus falou outrora aos nossos pais, pelos profetas. Nestes dias, que são os últimos, falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e pelo qual também criou o universo (Hb 1,1-2).

Esse e tantos outros tópicos dos Lineamenta deixam entrever a importância do conteúdo do tema "A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja".

Como diz o apóstolo Paulo, "a palavra de Deus é viva" (Hb 4,12). A Palavra continua atual. Nela Deus se faz presente, mormente e em especial na Palavra proclamada na celebração dos sacramentos.

E Deus continua, pois, falando...


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[1] Lineamentum, palavra latina, geralmente usada no plural lineamenta, significando: 1. Feições; traços fisionômicos. 2. Linha geométrica; traço; pincelada; retoque. 3. Esbôço, plano (duma obra). [Francisco Torrinha, Dicionário Latino-Português, Porto - Portugal, Edições Marãnus, 3ª edição, 1945, p. 480].


Fonte da imagem: http://teologiafvida.blogspot.com/

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Sínodo dos Bispos: cooperação com o Papa

Já falamos sobre o Sínodo Diocesano. Hoje falaremos sobre o Sínodo dos Bispos.

O Sínodo dos Bispos, como hoje se organiza, deita raízes no Concílio Vaticano II (1962-1965), ou seja, no Decreto Christus Dominus sobre o Múnus Pastoral dos Bispos na Igreja, de 28 de outubro de 1965.

A previsão vem no número 5 desse Decreto conciliar, que diz:

"5. Bispos, escolhidos de diversas regiões do orbe, segundo modos e métodos estabelecidos ou a serem estabelecidos pelo Romano Pontífice, prestam ao Supremo Pastor da Igreja ajuda mais válida no Conselho que tem por nome Sínodo Episcopal. Este Sínodo, representando todo o Episcopado católico, ao mesmo tempo significa que todos os Bispos em comunhão hierárquica participam na solicitude pela Igreja Universal."

O Papa Paulo VI, que bem sabia da significação desse método colegiado de administração, antecipando-se a aprovação desse Decreto pelos Padres Conciliares, assinou, no dia 15 de setembro de 1965, a Carta Apostólica Apostolica Sollicitudo promulgada "Motu Proprio", mediante a qual se constitui o Sínodo dos Bispos para a Igreja Universal.


O Código de Direito Canônico (1983) trata do Sínodo dos Bispos nos canônes 342-348.

O Sínodo dos Bispos é um órgão representativo do Episcopado católico, como instituído pelo mencionado "Motu Proprio".

E mais. O Sínodo dos Bispos é a assembléia dos Bispos católicos escolhidos segundo normas de organização, que se reúnem periodicamente, para estimular o estreitamento da união entre o Romano Pontífice e os Bispos, bem como para auxiliar o Romano Pontífice e para examinar questões que dizem respeito à ação da Igreja no mundo, como se pode ler do canône 342.

O Sínodo dos Bispos está sujeito diretamente à autoridade do Romano Pontífice, que é quem o convoca (cân. 344). O Sínodo dispõe de uma secretaria geral permanente, cujo Secretário Geral é nomeado pelo Romano Pontífice, auxiliado pelo conselho da secretaria (cân. 348). Este conselho é composto de Bispos, uns eleitos pelos Bispos sinodais e outros nomeados pelo Romano Pontífice (cân. 348).

A Secretaria, por ser permanente, mantém a organização administrativa e operacional, bem como faz uma ponte entre uma assembléia geral e outra. E, nesse sentido, é interessante notar que a função do Secretário Geral e de todos os Bispos, eleitos e nomeados, "cessa ao começar a nova assembléia geral" (cân. 348, § 2).

E, assim, a Igreja se organiza para caminhar unida!

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Fonte da imagem:
http://www.champagnat.org/pt/261000001.asp?num=322

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Spe salvi: salvos na Esperança


O título tem por matriz a Carta do Apóstolo Paulo aos Romanos, capítulo 8, versículo 24: Pois é na esperança que fomos salvos. Ora, aquilo que se tem diante dos olhos não é objeto de esperança: como pode alguém esperar o que está vendo?

A Encíclica, em sua introdução (n. 1), salienta o fato de que a Carta do Apóstolo é endereçada aos Romanos e a nós também. Importa dizer que precisamos nos dar conta de que os escritos bíblicos falam hoje para nós.

A esperança é, de fato, uma palavra central da fé bíblica, a ponto de, em várias passagens, ser possível intercambiar os termos "fé" e "esperança", diz a Encíclica (n. 2).

Qual é a grande esperança? Responde a Encíclica: A verdadeira e grande esperança do homem, que resiste apesar de todas as desilusões, só pode ser Deus - o Deus que nos amou, e ama ainda agora "até ao fim", "até à plena consumação" (cf. Jo 13,1 e 19,30) - n. 27.

Chegar a conhecer Deus, o verdadeiro Deus: isto significa receber esperança. A nós, que desde sempre convivemos com o conceito cristão de Deus e a ele nos habituamos, a posse de uma tal esperança que provém do encontro real com este Deus quase nos passa despercebida (n. 3).

Bento XVI dedica algumas passagens da Encíclica para evocar Josefina Bakhita, uma santa de nossos dias, como exemplo, a ajudar-nos a entender o que significa encontrar pela primeira vez e realmente este Deus (n. 3).

Santa Bakhita vivia de uma Esperança Maior. Diante de tantos sofrimentos físicos e emocionais, humilhações pelos quais passou, a Esperança encontrada por Bakhita não restou fragilizada, maculada ou insegura no transcorrrer de sua vida. Os fatos adversos ocorridos no curso do caminho não prejudicaram a meta: a Esperança Cristã.

É do apóstolo Paulo esta exortação: "alegres na esperança, fortes na tribulação, perseverantes na oração" (Rm 12,12). Por certo, Bakhita, em sendo alegre na esperança, esteve além das tribulações (e que tribulações!), alimentando esse estado de vida no perserverante diálogo com Deus (ou, no dialeto veneziano, com o Paron - o bom Patrão).

A Encíclica vem preencher um vazio da sociedade moderna, que, sem a Esperança, busca, em vão, nas coisas imediatas e sensíveis a superação para essa insatisfação humana.

SPE SALVI facti sumus - é na esperança que fomos salvos (Rm 8,24) - n. 1.

Vale ler a Carta Encíclica do Santo Padre Bento XVI Spe salvi sobre a Esperança Cristã, editada pela Editora Paulus/Edições Loyola e pela Editora Paulinas.


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Fonte da imagem:
http://www.paulus.com.br/lojavirtual/secoes/detalhamento.php?id=2340&produto=Livros&cat_produto=produtos_livros&produto_dir=livros&categoria=Pastoral,%20Catequese%20e%20Liturgia&id_cat=0

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Bakhita: mística mensageira da esperança

Josefina Bakhita, em italiano Giuseppina Bakhita, nasceu em 1869, em Olgossa, aldeia da região de Darfur, no Sudão, e morreu na Itália, onde vivia, no Convento das Filhas da Caridade Canossianas, em Schio (na província de Vicenza), em 8 de fevereiro de 1947.

A família de Bakhita já conhecia o sofrimento da perda. Sua irmã fora raptada por traficantes de escravos negros que apareceram em Olgossa. Sua mãe sofreu e chorou muito. Toda a família chorou a perda.

Algo ainda ia trazer mais sofrimento.

Certo dia, quando tinha cerca de nove anos, Bakhita e uma colega mais velha estavam passeando no campo. Delas se aproximaram repentinamente dois estrangeiros. Um deles disse à colega que deixasse a menina pequena (Bakhita) ir colher algumas frutas para ele no bosque, e que logo se encontrariam mais adiante. E assim aconteceu: a colega continuou o seu caminho. Bakhita já estava no bosque quando percebeu que os estrangeiros a seguiam, momento em que um deles agarrou a menina com força brutal e o outro sacou uma faca ameaçando-a de morte se gritasse, e foi obrigada a segui-los.

Esses estrangeiros eram traficantes de escravos negros.

Bakhita não é o nome que seus pais lhe deram, mas sim o nome dado a ela por seus traficantes. Bakhita no dialeto local significa "afortunada", "bem-aventurada". Nome significativo, de cunho profético, para o futuro da menina raptada. Josefina é seu nome de batismo, que se realizaria anos depois, na Itália, como adiante veremos.

Nos mercados de escravos das cidades de El Obeid e Cartum (capital), ambas no Sudão, foi vendida cinco vezes.

Seu quarto dono a maltratou muitíssimo, quando teria por essa época uns treze anos. Foi quem mais a humilhou e a fez sofrer. Disso, lhe resultaram mais de cem cicatrizes que marcaram seu corpo para sempre. E, para evitar infecções e durante aproximadamente um mês, sal era colocado sobre as incisões. Tamanho era o sofrimento que Bakhita chegava a pensar que não ia agüentar e morrer.

Finalmente, em Cartum, capital do Sudão, foi comprada, em 1882, por um comerciante italiano para o senhor Calixto Legnani, cônsul italiano, residente na cidade, que pretendia restituir-lhe a liberdade. Em vezes anteriores, o cônsul já havia feito o mesmo caminho: crianças escravas compradas para ele e por ele restituídas às suas famílias. No entanto, não foi possível fazer o mesmo com Bakhita, por causa da grande distância entre o lugar de origem e a capital e do vazio de memória da adolescente quanto ao nome do vilarejo onde morava e dos nomes dos próprios familiares.

O senhor Legnani foi o seu quinto dono. Mas um dono diferente: Bakhita era tratada como um ser humano. Os donos anteriores se consideravam proprietários de algo que podia ser objeto de compra e venda.

Na casa do cônsul, Bakhita não era, pois, tratada como escrava. Ganhou a paz e a serenidade, não obstante amargurasse a saudade da família, talvez ficada para trás para sempre.

Em 1884, o cônsul, ante a insurreição mahdista, foi obrigado a deixar Cartum. A pedido de Bakhita, ela acompanhou o cônsul e o seu amigo Augusto Michieli, com destino à Itália.

Chegados à Itália, em Veneza, a esposa do senhor Augusto Michieli, que os esperava, quis ficar com um dos escravos que traziam, insistindo em ficar com Bakhita. Pressionado, o senhor Calixto Legnani concordou.

Bakhita passou a morar com a família Michieli, em Zeniago (em Mirano, na província de Veneza). Quando nasceu Mimina, filha do casal Michieli, Bakhita fez o papel de babá, e se tornou também uma amiga. Em 1888, por razões econômicas (compra de um hotel em Suakin, no Sudão), a família Michieli deixou a Itália para administrar o hotel.

A conselho do senhor Iluminado Checchini, administrador do casal, a criança Mimina e Bakhita permaneceram na Itália e foram confiadas às Irmãs Canossianas do Instituto dos Catecúmenos de Veneza.

Bakhita ficou hospedada gratuitamente e começou receber os primeiros ensinamentos religiosos. Quando a senhora Maria Turina, esposa do senhor Michieli, voltou da África, para retomar a filha e Bakhita, esta, com coragem e determinação, manifestou o desejo de continuar na Itália com as irmãs Canossianas. Bakhita pôde fazer prevalecer a sua vontade, porque na Itália não são reconhecidas as leis de escravatura. No dia 29 de novembro de 1889 Bakhita foi declarada oficialmente livre.

No dia 9 de janeiro de 1890, Bakhita recebe os sacramentos da iniciação cristã, com o nome de Giuseppina Margherita Fortunata. No dia 7 de dezembro de 1893, ingressou no noviciado do Instituto de Santa Madalena de Canossa, e em 8 de dezembro de 1896 pronunciou os primeiros votos religiosos.

Bakhita foi transferida, em 1902, para o Convento da mesma Ordem em Schio, na província de Vicenza, onde permaneceu até o seu falecimento. Bakhita fazia trabalhos de limpeza, cozinhava e cuidava dos serviços da sacristia. Na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), prestou ajuda em serviços de enfermaria, quando parte do Convento serviu de hospital militar.

Bakhita passou, a partir de 1922, a encarregada da portaria. Neste ofício, começou a manter contato com a população local, que passou a gostar e amar esta freira negra, por causa do seu modo de tratar as pessoas. Bakhita era gentil, atenciosa, serena e sempre alegre. Passou a ser conhecida carinhosamente como Madre Moretta.

O carisma e a santidade de Bakhita propagadas pelo povo passaram a ser notados pelas superioras do Convento. Houve interesse em conhecer detalhes da vida da "Irmã Morena". Bakhita, que só falava o dialeto veneziano, teve uma autobiografia escrita em 1910, em italiano, com detalhes contados à Irmã Teresa Fabris.

Bakhita esteve em Veneza contando a história da sua vida.

Com a publicação de suas memórias, Bakhita ficou conhecida, e começou, então, a viajar por toda a Itália participando de conferências, dando seu testemunho de vida. Sua presença era o bastante, pois, falando somente o dialeto veneziano, poucas palavras dizia ao final dos encontros, mas plenamente suficientes. A presença da tímida Bakhita era o bastante para encantar as pessoas.

Desde 1939, começou a sentir problemas de saúde, não se ausentando mais do Convento em Schio.

Bakhita veio a falecer no dia 8 de fevereiro de 1947, depois de uma longa e dolorosa doença. Muitas pessoas acorreram para dar um último adeus, expressando a gratidão e a veneração à carinhosa Irmã Morena.

No dialeto veneziano, Bakhita se referia a Deus com muito carinho, chamando-O de "el me Paron". Deus era o novo "Patrão" que Bakhita buscava. Veio encontrá-lo e experimentá-lo ao ingressar na Família Canossiana. E, a partir daí, nunca se separou do seu bom "Paron".

As investigações sobre a santidade de Bakhita começaram em 1959 pela Diocese local, doze anos depois da sua morte. Em 1º de dezembro de 1978 foi declarada Venerável. Em 17 de maio de 1992, foi beatificada pelo Papa João Paulo II.

Dez dias depois de declarada "bem-aventurada" (beatificada), acontece, na Diocese de Santos (Estado de São Paulo - Brasil), o milagre necessário para levar a Beata Bakhita à sua canonização. Leia mais aqui, no artigo do Pe. Caetano Rizzi.


A Igreja celebra a memória da Santa Josefina Bakhita no dia 8 de fevereiro.


Leia mais:




Fonte da primeira e da segunda imagens:
http://br.geocities.com/faby_black/bakhita.html


Fonte da terceira imagem:
http://www.combonianos.com/MNDigital/revista/junio/darfur.html


sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Quaresma: caminho para a Páscoa do Senhor

Quaresma, do latim quadragesima, significa o período de quarenta dias dedicados à preparação da celebração da Páscoa do Senhor.

A Quaresma começa na Quarta-Feira de Cinzas (6/2) e vai até Quinta-Feira da Semana Santa (20/3), excluindo a Missa na Ceia do Senhor.

O número simbólico de quarenta dias tem a ver, entre outras passagens bíblicas, com o dilúvio de quarenta dias e quarenta noites de chuvas sobre a face da terra, cuja figura central é Noé. Tem a ver com os quarenta anos de peregrinação do povo de Israel no deserto, cuja figura central é Moisés. Os quarenta dias e as quarenta noites de permanência de Moisés na montanha (Ex 24, 12-18.34). Os quarenta dias e as quarenta noites de caminhada de Elias para chegar até a montanha de Deus, o Horeb (1Rs 19, 3-8) E, por fim, com os quarenta dias de recolhimento de Jesus no deserto, guiado pelo Espírito Santo.



Fonte da imagem:
http://www.fatima.com.br/interna_exibe.asp?ct=&mn=341&id=808&nt=1161