segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Bento XVI: uma renúncia corajosa e coerente

Hoje cedo, ao acessar informações diárias, me deparei com o anúncio da renúncia do Papa Bento XVI. Imediatamente, recorri à Rádio Vaticano, para, antes de tudo saber, se era mesmo verdade aquilo que, incrédulo, vi como manchete. Fiquei surpreso, emocionado e, imediatamente, comuniquei o fato a meus filhos e à minha esposa. A partir daí, inteiramo-nos de mais notícias, todas recheadas de muitas especulações.

Efetiva e surpreendentemente, o Papa Bento XVI declarou, nesta manhã, a sua renúncia ao ministério de Bispo da Diocese de Roma e de Sucessor de São Pedro (Papa). É verdadeiramente um momento histórico para a Igreja e o mundo.

Tenho a convicção de que o Papa, com a idade avançada, renuncia por condições de saúde não idôneas para exercer adequadamente, com o vigor quer do corpo quer do espírito, o ministério petrino. E nunca pelas várias e diversificadas questões que rodeiam a Igreja Católica Apostólica Romana. 

No passado, quando se especulava sobre a renúncia do Papa, Bento XVI já, em momento efervecescente da pedofilia, afirmara:

“Se o perigo é grande, não se deve fugir dele. Por isso, certamente não é hora de renunciar. Justamente em um momento como este, é preciso permanecer firme e encarar a situação difícil. Esta é a minha concepção. Pode-se renunciar em um momento sereno ou quando a pessoa já não pode mais. Mas não se deve fugir no perigo e dizer: que outro faça isso”.

Dessa afirmação deduz-se que a renúncia não é algo contrário ao exercício petrino, mas de ocorrência rara. Pode-se renunciar em um momento sereno ou quando a pessoa já não pode mais - esclarece o próprio Papa.

A Bento XVI a renúncia lhe pareceu um direito e um dever, como se lê:

"Na entrevista “Luz do mundo”, publicada em 2010, em resposta ao jornalista Peter Seewald, Bento XVI declarou: “Se o Papa chega a reconhecer com clareza que, física, psíquica e mentalmente, já não pode suportar a carga do seu ofício, tem o direito e, em certas circunstâncias, também o dever de renunciar”."

A renúncia de Papa é prevista no Código de Direito Canônico, como dispõe o canône 332, § 2, que abaixo reproduzo:

"Cân. 332 — § 1. O Romano Pontífice, pela eleição legítima por ele aceite juntamente com a consagração episcopal, adquire o poder pleno e supremo na Igreja. Pelo que, o eleito para o pontificado supremo se já estiver dotado com carácter episcopal, adquire o referido poder desde o momento da aceitação. Se, porém, o eleito carecer do carácter episcopal, seja imediatamente ordenado Bispo.
§ 2. Se acontecer que o Romano Pontífice renuncie ao cargo, para a validade requer-se que a renúncia seja feita livremente, e devidamente manifestada, mas não que seja aceite por alguém."

A renúncia de Bento XVI ao ministério de Bispo de Roma e de Papa é um ato de despojamento, humildade e de fé, enfim de sabedoria. E, por ser coisa incomum na vida da Igreja, é um ato de coragem e coerência!

A renúncia, ou resignação, deixa uma grande lição. O ministério petrino é, para Bento XVI, serviço e, como tal, é válido enquanto o exercente tiver condições para tal. Antes de tudo, serviço e, secundariamente, poder. Até o seu ato de renúncia é um magistério, é um ensinamento.

Ainda sob o impacto, acredito que, daqui para a frente, se crie um novo paradigma para o ministério petrino. Com a renúncia de Bento XVI, abre-se uma nova porta para que outros Papas, em situações iguais ou assemelhadas, se sintam sem constrangimentos a resignar ao pontificado.

Um grande teólogo, um grande Papa para ser lido e compreendido. O teólogo e o Papa do diálogo com a cultura. Um Papa que vive o ministério petrino, acima de tudo, como serviço, e não como poder.

O seu papado é verdadeiramente um magistério, ensinando, por exemplo, com as suas catequeses das quartas-feiras, sobremodo, atualmente, as dedicadas ao Ano da Fé.

Mas, ainda estou muito tocado pela renúncia, ainda estou por assimilá-la por completo, não obstante esteja a apreender dela edificantes lições. Sou tomado por esse estado de coisas, porque, na história da Igreja, as renúncias foram pouquíssimas. A última renúncia foi a do Papa Gregório XII (1406-1415), em 4 de julho de 1415.

Por certo, que a renúncia ocupará a grade do noticário dos meios de comunicação nesta segunda-feira de Carnaval.


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Fonte da imagem:
http://pt.radiovaticana.va/bra/Articolo.asp?c=663813

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