Efetiva e surpreendentemente, o Papa Bento XVI declarou, nesta manhã, a sua renúncia ao ministério de Bispo da Diocese de Roma e de Sucessor de São Pedro (Papa). É verdadeiramente um momento histórico para a Igreja e o mundo.
Tenho a convicção de que o Papa, com a idade avançada, renuncia por condições de saúde não idôneas para exercer adequadamente, com o vigor quer do corpo quer do espírito, o ministério petrino. E nunca pelas várias e diversificadas questões que rodeiam a Igreja Católica Apostólica Romana.
No passado, quando se especulava sobre a renúncia do Papa, Bento XVI já, em momento efervecescente da pedofilia, afirmara:
“Se o perigo é grande, não se deve fugir dele. Por isso, certamente não
é hora de renunciar. Justamente em um momento como este, é preciso
permanecer firme e encarar a situação difícil. Esta é a minha concepção.
Pode-se renunciar em um momento sereno ou quando a pessoa já não pode
mais. Mas não se deve fugir no perigo e dizer: que outro faça isso”.
Dessa afirmação deduz-se que a renúncia não é algo contrário ao exercício petrino, mas de ocorrência rara. Pode-se renunciar em um momento sereno ou quando a pessoa já não pode mais - esclarece o próprio Papa.
A Bento XVI a renúncia lhe pareceu um direito e um dever, como se lê:
"Na entrevista “Luz do mundo”, publicada em 2010, em resposta ao
jornalista Peter Seewald, Bento XVI declarou: “Se o Papa chega a
reconhecer com clareza que, física, psíquica e mentalmente, já não pode
suportar a carga do seu ofício, tem o direito e, em certas
circunstâncias, também o dever de renunciar”."
A renúncia de Papa é prevista no Código de Direito Canônico, como dispõe o canône 332, § 2, que abaixo reproduzo:
"Cân. 332 — § 1. O Romano Pontífice, pela eleição legítima por ele aceite juntamente com a consagração episcopal, adquire o poder pleno e supremo na Igreja. Pelo que, o eleito para o pontificado supremo se já estiver dotado com carácter episcopal, adquire o referido poder desde o momento da aceitação. Se, porém, o eleito carecer do carácter episcopal, seja imediatamente ordenado Bispo.
§ 2. Se acontecer que o Romano Pontífice renuncie ao cargo, para a validade requer-se que a renúncia seja feita livremente, e devidamente manifestada, mas não que seja aceite por alguém."
§ 2. Se acontecer que o Romano Pontífice renuncie ao cargo, para a validade requer-se que a renúncia seja feita livremente, e devidamente manifestada, mas não que seja aceite por alguém."
A renúncia de Bento XVI ao ministério de Bispo de Roma e de Papa é um ato de despojamento, humildade e de fé, enfim de sabedoria. E, por ser coisa incomum na vida da Igreja, é um ato de coragem e coerência!
A renúncia, ou resignação, deixa uma grande lição. O ministério petrino é, para Bento XVI, serviço e, como tal, é válido enquanto o exercente tiver condições para tal. Antes de tudo, serviço e, secundariamente, poder. Até o seu ato de renúncia é um magistério, é um ensinamento.
Ainda sob o impacto, acredito que, daqui para a frente, se crie um novo paradigma para o ministério petrino. Com a renúncia de Bento XVI, abre-se uma nova porta para que outros Papas, em situações iguais ou assemelhadas, se sintam sem constrangimentos a resignar ao pontificado.
Um grande teólogo, um grande Papa para ser lido e compreendido. O teólogo e o Papa do diálogo com a cultura. Um Papa que vive o ministério petrino, acima de tudo, como serviço, e não como poder.
O seu papado é verdadeiramente um magistério, ensinando, por exemplo, com as suas catequeses das quartas-feiras, sobremodo, atualmente, as dedicadas ao Ano da Fé.
Mas, ainda estou muito tocado pela renúncia, ainda estou por assimilá-la por completo, não obstante esteja a apreender dela edificantes lições. Sou tomado por esse estado de coisas, porque, na história da Igreja, as renúncias foram pouquíssimas. A última renúncia foi a do Papa Gregório XII (1406-1415), em 4 de julho de 1415.
Por certo, que a renúncia ocupará a grade do noticário dos meios de comunicação nesta segunda-feira de Carnaval.
Vaticano: Bento XVI apresenta renúncia ao pontificado
Santa Sé desmente rumores sobre renúncia do Papa
Na história da Igreja Católica, Bento XVI é o quarto papa a renunciar
Fonte da imagem:
http://pt.radiovaticana.va/bra/Articolo.asp?c=663813
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