terça-feira, 1 de outubro de 2013

Papa Francisco ao Diretor do La Reppublica: a extraordinária autoridade de Jesus



Eugenio Scalfari, fundador e diretor do jornal italiano La Reppublica, que se declara não crente, suscitou um diálogo com o Papa Francisco, com artigos publicados nos dias 7 de julho e 7 de agosto de 2013.

No primeiro artigo, Eugenio Scalfari faz uma reflexão sobre a Lumen Fidei, a primeira encíclica assinada pelo Papa Francisco. Como o conteúdo da encíclica pertence a Bento XVI e a Francisco, o artigo leva o sugestivo título "As respostas que os dois papas não dão".

Scalfari escreve:

"Por isso, levando-se tudo em consideração, o tema que mais me apaixona é a encíclica Lumen fidei, a primeira assinada pelo Papa Francisco. O assunto é importante porque toca o ponto central da doutrina cristã: o que é a fé, de onde ela provém, como ela é vivida pelos crentes, quais reações ela suscita em quem não é cristão, como ela explica a existência da raça humana e como responde a perguntas que cada um de nós se faz e às quais, na maioria das vezes, não encontra resposta: quem somos, de onde viemos, para onde vamos."

No segundo artigo, Eugenio Scalfari, ainda fazendo referência à encíclica Lumen Fidei, formula agora perguntas ao Papa Francisco. E o artigo intitula-se "As perguntas de um não crente ao papa jesuíta chamado Francisco".

A certa altura do artigo, Scalfari reporta-se ao já conhecido impulso que o Papa Francisco quer imprimir ou reavivar nos fiéis e na Igreja:

"Ele quer uma Igreja pobre que pregue o valor da pobreza; uma Igreja militante e missionária; uma Igreja pastoral; uma Igreja construída à semelhança de um Deus misericordioso, que não julga, mas perdoa, que busque a ovelha perdida, que acolha o filho pródigo."


No dia 4 de setembro de 2013, o Papa Francisco respondeu a Eugenio Scalfari os artigos publicados no jornal italiano La Reppublica, edições de 7 de julho e 7 de agosto de 2013.

Para esclarecer o título deste post, ou seja, a extraordinária autoridade de Jesus, reproduzo, nessa parte, a resposta dada pelo Papa:

"Por isso, é preciso confrontar-se com Jesus – diria – na dimensão concreta e tosca da sua história, tal como nos é narrada sobretudo pelo mais antigo dos Evangelhos, o de Marcos. Aí se constata que o «escândalo», que as palavras e a actividade de Jesus provocam ao seu redor, deriva da sua extraordinária «autoridade» – termo este, atestado já desde o Evangelho de Marcos mas que não é fácil de traduzir em italiano. A palavra grega é exousia, que literalmente se refere àquilo que «provém do ser» que se é. Trata-se portanto, não de algo exterior ou forçado, mas de algo que brota de dentro e se impõe por si mesmo. Realmente Jesus impressiona, desinstala, reforma a partir – Ele mesmo o disse – da sua relação com Deus, que trata familiarmente por Abbá, o qual Lhe confere esta «autoridade» para que Ele a aplique a favor dos homens.
Assim, Jesus prega «como alguém que tem autoridade», cura, chama os discípulos para O seguirem, perdoa... Todas estas coisas, no Antigo Testamento, são prerrogativa de Deus, e só Deus. A pergunta, que mais vezes reaparece no Evangelho de Marcos – «Quem é este que... ?» – e que diz respeito à identidade de Jesus, nasce da constatação de uma autoridade diferente da do mundo, uma autoridade que não tem como finalidade exercer um poder sobre os outros mas servi-los, dar-lhes liberdade e plenitude de vida. E isto até ao ponto de arriscar a sua própria vida, até experimentar a incompreensão, a traição, a rejeição, até ser condenado à morte, até cair no estado de abandono na cruz. Mas Jesus permanece fiel a Deus até ao fim."

Francisco expõe sua vontade de proximidade com o outro, como tem sido a sua prática de vida, no sentido de fazer com Scalfari uma caminhada juntos, ou com suas palavras:

"E assim concluo, ilustre Dr. Scalfari, estas minhas reflexões, suscitadas por tudo o que me quis comunicar e perguntar. Receba-as como uma tentativa de resposta, provisória mas sincera e confiante, ao convite que vislumbrei para fazermos um pedaço de estrada juntos. A Igreja – creia-me! – apesar de todas as lentidões, infidelidades, erros e pecados que possa ter cometido e pode ainda cometer nos que a compõem, não tem outro sentido e finalidade que não seja viver e testemunhar Jesus: Ele, que foi enviado pelo Abbá para «anunciar a Boa-Nova aos pobres, proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista, mandar em liberdade os oprimidos, proclamar um ano favorável da parte do Senhor» (Lc 4,18-19 )."

Em português, essas e outras passagens da carta-resposta do Papa Francisco podem ser lidas aqui.


Leia mais:

Jesus, fé e razão: o diálogo do pontífice com a ovelha perdida. Artigo de Eugenio Scalfari

A carta de Francisco e a coragem aberta à cultura moderna. Artigo de Eugenio Scalfari


Fonte da primeira imagem:
http://padretelmofigueiredo.blogspot.com.br/2013/09/papa-francisco-dialoga-com-um-ateu.html

Fonte da segunda imagem:
http://papa.cancaonova.com/papa-responde-a-criticas-e-perguntas-sobre-a-fe/

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