Eugenio Scalfari, fundador e diretor do jornal italiano La Reppublica, que se declara não crente, suscitou um diálogo com o Papa Francisco, com artigos publicados nos dias 7 de julho e 7 de agosto de 2013.
No primeiro artigo, Eugenio Scalfari faz uma reflexão sobre a Lumen Fidei, a primeira encíclica assinada pelo Papa Francisco. Como o conteúdo da encíclica pertence a Bento XVI e a Francisco, o artigo leva o sugestivo título "As respostas que os dois papas não dão".
Scalfari escreve:
"Por isso, levando-se tudo em consideração, o tema que mais me apaixona é a encíclica Lumen fidei, a primeira assinada pelo Papa Francisco.
O assunto é importante porque toca o ponto central da doutrina cristã: o
que é a fé, de onde ela provém, como ela é vivida pelos crentes, quais
reações ela suscita em quem não é cristão, como ela explica a existência
da raça humana e como responde a perguntas que cada um de nós se faz e
às quais, na maioria das vezes, não encontra resposta: quem somos, de
onde viemos, para onde vamos."
No segundo artigo, Eugenio Scalfari, ainda fazendo referência à encíclica Lumen Fidei, formula agora perguntas ao Papa Francisco. E o artigo intitula-se "As perguntas de um não crente ao papa jesuíta chamado Francisco".
A certa altura do artigo, Scalfari reporta-se ao já conhecido impulso que o Papa Francisco quer imprimir ou reavivar nos fiéis e na Igreja:
"Ele quer uma Igreja pobre que pregue o valor da pobreza; uma Igreja
militante e missionária; uma Igreja pastoral; uma Igreja construída à
semelhança de um Deus misericordioso, que não julga, mas perdoa, que
busque a ovelha perdida, que acolha o filho pródigo."
No dia 4 de setembro de 2013, o Papa Francisco respondeu a Eugenio Scalfari os artigos publicados no jornal italiano La Reppublica, edições de 7 de julho e 7 de agosto de 2013.
Para esclarecer o título deste post, ou seja, a extraordinária autoridade de Jesus, reproduzo, nessa parte, a resposta dada pelo Papa:
"Por isso, é preciso
confrontar-se com Jesus –
diria – na dimensão concreta
e tosca da sua história, tal
como nos é narrada sobretudo
pelo mais antigo dos
Evangelhos, o de Marcos. Aí
se constata que o
«escândalo», que as palavras
e a actividade de Jesus
provocam ao seu redor,
deriva da sua extraordinária
«autoridade» – termo este,
atestado já desde o
Evangelho de Marcos mas que
não é fácil de traduzir em
italiano. A palavra grega é
exousia, que
literalmente se refere
àquilo que «provém do ser»
que se é. Trata-se portanto,
não de algo exterior ou
forçado, mas de algo que
brota de dentro e se impõe
por si mesmo. Realmente
Jesus impressiona,
desinstala, reforma a partir
– Ele mesmo o disse – da sua
relação com Deus, que trata
familiarmente por Abbá,
o qual Lhe confere esta
«autoridade» para que Ele a
aplique a favor dos homens.
Assim, Jesus prega «como
alguém que tem autoridade»,
cura, chama os discípulos
para O seguirem, perdoa...
Todas estas coisas, no
Antigo Testamento, são
prerrogativa de Deus, e só
Deus. A pergunta, que mais
vezes reaparece no Evangelho
de Marcos – «Quem é este
que... ?» – e que diz
respeito à identidade de
Jesus, nasce da constatação
de uma autoridade diferente
da do mundo, uma autoridade
que não tem como finalidade
exercer um poder sobre os
outros mas servi-los,
dar-lhes liberdade e
plenitude de vida. E isto
até ao ponto de arriscar a
sua própria vida, até
experimentar a
incompreensão, a traição, a
rejeição, até ser condenado
à morte, até cair no estado
de abandono na cruz. Mas
Jesus permanece fiel a Deus
até ao fim."
Francisco expõe sua vontade de proximidade com o outro, como tem sido a sua prática de vida, no sentido de fazer com Scalfari uma caminhada juntos, ou com suas palavras:
"E assim concluo, ilustre
Dr. Scalfari, estas minhas
reflexões, suscitadas por
tudo o que me quis comunicar
e perguntar. Receba-as como
uma tentativa de resposta,
provisória mas sincera e
confiante, ao convite que
vislumbrei para fazermos um
pedaço de estrada juntos. A
Igreja – creia-me! – apesar
de todas as lentidões,
infidelidades, erros e
pecados que possa ter
cometido e pode ainda
cometer nos que a compõem,
não tem outro sentido e
finalidade que não seja
viver e testemunhar Jesus:
Ele, que foi enviado pelo
Abbá para «anunciar a
Boa-Nova aos pobres,
proclamar a libertação aos
cativos e, aos cegos, a
recuperação da vista, mandar
em liberdade os oprimidos,
proclamar um ano favorável
da parte do Senhor» (Lc
4,18-19 )."
Em português, essas e outras passagens da carta-resposta do Papa Francisco podem ser lidas aqui.
Leia mais:
Jesus, fé e razão: o diálogo do pontífice com a ovelha perdida. Artigo de Eugenio Scalfari
A carta de Francisco e a coragem aberta à cultura moderna. Artigo de Eugenio Scalfari
Fonte da primeira imagem:
http://padretelmofigueiredo.blogspot.com.br/2013/09/papa-francisco-dialoga-com-um-ateu.html
Fonte da segunda imagem:
http://papa.cancaonova.com/papa-responde-a-criticas-e-perguntas-sobre-a-fe/
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