terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Declaração Conjunta do Papa Francisco e do Patriarca Cirilo entra para a História



A visão profética de São João XXIII vai-se tornando realidade: a promoção da unidade na família cristã e humana.

Há onze anos, São João Paulo II, na esteira da promoção da unidade cristã (ecumenismo), sonhou com um encontro com Alexis II, então Patriarca de Moscou e toda a Rússia, por ocasião da restituição do ícone de Nossa de Senhora de Kazan. Tal encontro pessoal, porém, não se concretizou.

Alexis II foi sucedido por Cirilo (Patriarca Kirill) no Patriarcado de Moscou e toda a Rússia (A Igreja da Rússia). É com ele que prosseguiram os entendimentos entre a Igreja Católica de Roma e a Ortodoxa da Rússia, para, já amadurecidos, culminar no histórico encontro entre o Papa Francisco e o Patriarca Cirilo, em Havana (Cuba) a 12 de fevereiro de 2016.

Ambas as lideranças religiosas trocaram significativos presentes. O Patriarca Cirilo ofertou a Francisco uma cópia do ícone de Nossa Senhora de Kazan. O Papa Francisco lhe correspondeu com dois presentes: um relicário de São Cirilo e um cálice.

No encontro, Francisco, Bispo de Roma e Papa da Igreja Católica Romana, e Kirill (Cirilo), Patriarca de Moscovo e toda a Rússia, assinaram uma Declaração Conjunta, que, por certo, passará para a História. Nela, entre tantos outros pontos relevantes, há o reconhecimento dos princípios fundamentais do cristianismo, exemplificativamente:

1. Por vontade de Deus Pai de quem provém todo o dom, no nome do Senhor nosso Jesus Cristo e com a ajuda do Espírito Santo Consolador, nós, Papa Francisco e Kirill, Patriarca de Moscovo e de toda a Rússia, encontramo-nos, hoje, em Havana. Damos graças a Deus, glorificado na Trindade, por este encontro, o primeiro na história. 

4. Damos graças a Deus pelos dons que recebemos da vinda ao mundo do seu único Filho. Partilhamos a Tradição espiritual comum do primeiro milénio do cristianismo. As testemunhas desta Tradição são a Virgem Maria, Santíssima Mãe de Deus, e os Santos que veneramos. Entre eles, contam-se inúmeros mártires que testemunharam a sua fidelidade a Cristo e se tornaram «semente de cristãos».

5. Apesar desta Tradição comum dos primeiros dez séculos, há quase mil anos que católicos e ortodoxos estão privados da comunhão na Eucaristia. Estamos divididos por feridas causadas por conflitos dum passado distante ou recente, por divergências – herdadas dos nossos antepassados – na compreensão e explicitação da nossa fé em Deus, uno em três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. Deploramos a perda da unidade, consequência da fraqueza humana e do pecado, ocorrida apesar da Oração Sacerdotal de Cristo Salvador: «Para que todos sejam um só, como Tu, Pai, estás em Mim e Eu em Ti; para que assim eles estejam em Nós» (Jo 17, 21).

6. Conscientes da permanência de numerosos obstáculos, esperamos que o nosso encontro possa contribuir para o restabelecimento desta unidade querida por Deus, pela qual Cristo rezou. Que o nosso encontro inspire os cristãos do mundo inteiro a rezar ao Senhor, com renovado fervor, pela unidade plena de todos os seus discípulos. Num mundo que espera de nós não apenas palavras mas gestos concretos, possa este encontro ser um sinal de esperança para todos os homens de boa vontade!

7. Determinados a realizar tudo o que seja necessário para superar as divergências históricas que herdámos, queremos unir os nossos esforços para testemunhar o Evangelho de Cristo e o património comum da Igreja do primeiro milénio, respondendo em conjunto aos desafios do mundo contemporâneo. Ortodoxos e católicos devem aprender a dar um testemunho concorde da verdade, em áreas onde isso seja possível e necessário. A civilização humana entrou num período de mudança epocal. A nossa consciência cristã e a nossa responsabilidade pastoral não nos permitem ficar inertes perante os desafios que requerem uma resposta comum.

30. Cheios de gratidão pelo dom da compreensão recíproca manifestada durante o nosso encontro, levantamos os olhos agradecidos para a Santíssima Mãe de Deus, invocando-A com as palavras desta antiga oração: «Sob o abrigo da vossa misericórdia, nos refugiamos, Santa Mãe de Deus». Que a bem-aventurada Virgem Maria, com a sua intercessão, encoraje à fraternidade aqueles que A veneram, para que, no tempo estabelecido por Deus, sejam reunidos em paz e harmonia num só povo de Deus para glória da Santíssima e indivisível Trindade!

A histórica Declaração Conjunta será, certamente, fonte de referência para estudos e ações nos diversos temas nela contemplados, tais como a liberdade religiosa, família, defesa da vida, perseguição aos cristãos, Europa e sua fidelidade às raízes cristãs, conflitos, diálogo inter-religioso.

Dada a sua importância histórica não só para o cristianismo romano quanto para o ortodoxo, bem assim para as pessoas de boa vontade, leia, na íntegra e em português, a sobredita Declaração Conjunta assinada pelo Papa Francisco e pelo Patriarca Kirill (Cirilo), clicando aqui.
Carta do Papa Bento XVI à sua Santidade Aleixo II Patriarca de Moscovo e de todas as Rússias

História resumida do Patriarcado de Moscou


Fonte da imagem:
https://pt.zenit.org/articles/um-manifesto-desconfortavel-para-o-mundo-vindouro/

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