O Papa Bento XVI presidiu, na noite do dia 24 de dezembro de 2012, a Missa da Solenidade do Natal do Senhor (Missa do Galo), na Basílica Vaticana, ou Basílica de São Pedro. A Homilia proferida pelo Papa, em tradução para o português, pode ser lida aqui. E dela destaco duas passagens, comentando-as.
1. Deus se faz criança. Há razões neste mistério de Deus. "Como se [Deus] dissesse: Sei que o meu esplendor te assusta, que à vista da minha grandeza procuras importe-te a ti mesmo. Por isso venho a ti como menino, para que Me possas acolher e amar" (Bento XVI).
O Deus distante, todo poderoso e sentado em suntuoso trono, não é o Deus da Noite de Natal. O Deus da Noite de Natal, comunicativo e despido de dominação, se achega a nós em forma humana (antropomórfica), como recém nascido. Aqui, cresce em idade e sabedoria, proclama o Reino de Deus e, por causa dessa novidade, é julgado, condenado e morto na cruz. Ressuscitado, vive entre nós.
2. O tempo e espaço para Deus. O homem moderno está com a sua agenda cheia. Os horários e espaços já estão todos ocupados. Encaixar algo mais só com muito jeito, à margem da agenda. Mas, para Deus, não tem jeito mesmo.
O Papa afirma: "E recordamos então que esta notícia, aparentementre casual, da falta de lugar na hospedaria que obriga a Sagrada Família a ir para o estábulo, foi aprofundada e referida na sua essência pelo evangelista João nestes termos: "Veio para o que era Seu, e os Seus não O acolheram (Jo 1,11). Deste modo, a grande questão moral sobre o modo como nos comportamos com os prófugos, os refugiados, os imigrantes ganha um sentido ainda mais fundamental: Temos verdadeiramente lugar para Deus, quando Ele tenta entrar em nós? Temos tempo e espaço para Ele? Porventura não é ao próprio Deus que rejeitamos? Isto começa pelo facto de não termos tempo para Deus. Quanto mais rapidamente nos podemos mover, quanto mais eficazes se tornam os meios que nos fazem poupar tempo, tanto menos tempo temos disponível. E Deus? O que diz respeito a Ele nunca parece uma questão urgente. O nosso tempo já está completamente preenchido."
Com tanta tecnologia, o tempo tornou-se curto, ou melhor, na medida em que se aperfeiçoam e crescem os meios tecnológicos (parece que a tecnologia quer nos socorrer nessa falta de tempo, mas, contraditoriamente, o homem fica com menos tempo), cada vez mais o tempo vai ficando escasso. Então, afirma o Papa: "Quanto mais rapidamente nos podemos mover, quanto mais eficazes se tornam os meios que nos fazem poupar tempo, tanto menos tempo temos disponível."
Nessa escassez de tempo, em que tudo se mede e se move pela utilidade e fruição imediatas, Deus não encontra lugar e tempo no coração do homem.
O meio cultural acaba influindo no comportamento do homem. O deus da velocidade, da utilidade e do imediatismo submete o homem a um ritmo de ansiedade avassaladora, para fazer dele um ser onipresente (estar em todos os lugares, fazer todas as coisas...).
O Papa tem proposto a questão dos valores, das prioridades, do significado do Natal, o que, aliás, vem como antídoto à escassez de tempo para Deus.
O Papa tem proposto a questão dos valores, das prioridades, do significado do Natal, o que, aliás, vem como antídoto à escassez de tempo para Deus.
É necessário que o homem retome a matriz da sua identidade como ser criado à imagem e semelhança de Deus (Gn 1, 26-27).
Há outras reflexões, mas listo essas duas, sendo a segunda de grande relevância para o momento em que vive a humanidade. Dada a sua importância, eis as palavras de Bento XVI:
A metodologia do nosso
pensamento está configurada de modo que, no fundo, Ele [Deus] não deva existir. Mesmo
quando parece bater à porta do nosso pensamento, temos de arranjar qualquer
raciocínio para O afastar; o pensamento, para ser considerado «sério», deve ser
configurado de modo que a «hipótese Deus» se torne supérflua. E também nos
nossos sentimentos e vontade não há espaço para Ele. Queremo-nos a nós mesmos,
queremos as coisas que se conseguem tocar, a felicidade que se pode
experimentar, o sucesso dos nossos projectos pessoais e das nossas intenções.
Estamos completamente «cheios» de nós mesmos, de tal modo que não resta qualquer
espaço para Deus.
http://www.news.va/pt/news/se-se-apaga-a-luz-de-deus-apaga-se-tambem-a-dignid
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