segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Asia Bibi a caminho do martírio, em nome de Cristo e de seu Evangelho

O tribunal de Nankana não se limitou a atirar­‑me para aqui, para o fundo desta cela húmida e fria, tão pequena que consigo alcançar as paredes com os dois braços abertos. Retirou­‑me também imediatamente o direito de eu ver os meus cinco filhos. Impossível, agora, apertá­‑los contra o peito e contar­‑lhes as histórias de monstros e príncipes do Punjabe que a minha mãe me contava quando eu tinha a idade deles. 


Ante uma generalizada indiferença do Ocidente, os cristãos estão sofrendo perseguições, estão sendo mortos em massa em regiões onde pouco ou nada há de respeito à vida humana, a valores democráticos, mas muito há de fanatismo político e religioso e de ignorância. Onde a tolerância é um zero à esquerda, não se conta, não existe.

As palavras do Papa Francisco nesta manhã de segunda-feira, 20 de outubro, são objetivas e penetrantes sobre o "fenômeno de terrorismo de dimensões jamais pensadas", que "requer, além de nossa constante oração, uma resposta adequada também da Comunidade Internacional":
Não podemos imaginar o Médio Oriente sem os cristãos, que há dois mil anos ali confessam o nome de Jesus. Os últimos acontecimentos, principalmente no Iraque e na Síria, são muito preocupantes. Assistimos a um fenómeno de terrorismo de dimensões jamais pensadas. Muitos irmãos são perseguidos e tiveram que deixar as suas casas de modo brutal. Ao que parece, perdeu-se a consciência do valor da vida humana; é como se as pessoas não contassem mais e pudessem ser sacrificadas em nome de outros interesses. Isto acontece, infelizmente, no meio da indiferença de muitos.

Esta situação injusta requer, além da nossa constante oração, uma resposta adequada também da Comunidade Internacional. Estou certo que, com a ajuda do Senhor, emergirão do encontro de hoje válidas reflexões e sugestões para ajudar os nossos irmãos que sofrem e abordar o drama da redução da presença cristã na terra onde nasceu e da qual se difundiu o cristianismo.

Desde a Carta da Organização das Nações Unidas - ONU, assinada em 26 de junho de 1945, a pessoa humana entrou no centro da razão de ser do Estado, como se lê no seu preâmbulo:

reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direito dos homens e das mulheres.

Por conseguinte, veio a Declaração Universal dos Direitos Humanos, um dos mais nobres documentos da ONU, que diz: 

Artigo 18º Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos.

Qualquer desvio desses valores grafados desde então e para sempre, merece, e com razão, a repulsa da comunidade internacional.

Ao tempo dos césares romanos, não havia uma limitação para os déspotas. A perseguição aos cristãos era feroz, e a mesma ferocidade se volta hoje contra os cristãos, já decorridos dois milênios.

Quero ater-me, porém, ao caso de Asia Bibi, paquistanesa e cristã católica, casada e mãe de cinco filhos.

Asia Bibi é vítima da intolerância religiosa. Em 14 de junho de 2009, num ambiente campestre de trabalho e debaixo de calor de 40ºC, Asia Bibi bebeu água de um poço pertencente a mulheres muçulmanas e usou o mesmo copo.

No livro Blasfémia, escrito por Asia Bibi, em colaboração com a jornalista francesa Anne-Isabelle Tollet, lançado em Portugal em 7/9/2011, o relato está assim melhor descrito:

Uma aldeia no centro do Paquistão, perto de Lahore. A temperatura chega aos 40º C e as mulheres trabalham nos campos. Entre elas está Asia Bibi. Asia tem sede. Ela tira um balde do fundo do poço, despeja um pouco de água numa velha xícara de metal e bebe até ao fim. Enche de novo a xícara e oferece-a a outra mulher a seu lado. É nesse momento que assina a sua sentença de morte. Asia é cristã e a chávena de metal pertence às suas amigas muçulmanas. Ao mergulhar de novo a chávena no balde depois de ter bebido nela, Asia sujou a água. Depressa se começou a falar de blasfémia.

As companheiras muçulmanas de trabalho nos campos levaram o fato ao conhecimento do imame (imã) da localidade, que, por sua vez, denunciou Asia Bibi à polícia por crime de blasfêmia, ou seja, ofensa à religião dessas companheiras de trabalho.

Eis o fato supostamente criminoso, assim sintetizado pela própria Asia Bibi:

Sou prisioneira porque utilizei o mesmo copo dessas mulheres muçulmanas. Água bebida por uma cristã considerada impura por essas estúpidas companheiras dos campos.

O livro acima mencionado narra:

Asia é condenada, sentenciada à morte. Por enforcamento. Tudo por um copo de água. Há já dois anos que Asia está na prisão, à espera de ser executada. 

Porém, no curso do processo, em primeiro grau, o juiz ofereceu à Asia Bibi a liberdade se ela se convertesse ao islamismo. Asia Bibi rejeitou tal permuta. Foi condenada em 2010, e, em número redondo, está encarcerada há cinco anos à espera da morte por enforcamento. 

No dia 16 de outubro de 2014, o Tribunal de Recurso em Lahore, Paquistão, confirmou a sentença de condenação de Asia Bibi. Para o padre Yousaf Emmanuel, Diretor da "Comissão Nacional Justiça e Paz" (NCJP) dos Bispos paquistaneses e pároco em Lahore, em relato à Agenzia Fides:

Em todo caso – acrescenta – a esperança vive: haverá um recurso à Corte Suprema e recordo os casos em que a Corte inverteu sentenças emitidas nas instâncias precedentes. Lembro-me de um caso que acompanhamos de perto com a Comissão Justiça e Paz: o caso de Ayub Masih, cristão também condenado à morte por blasfêmia e salvado justamente graças ao veredicto de absolvição da Corte Suprema.

A esperança ainda vive. Há a possibilidade de Asia Bibi ganhar a liberdade quando a Corte Suprema reapreciar, em grau de recurso, a defesa, conforme o caso ilustrado pelo padre Yousaf Emmanuel. 

Asia Bibi, esposa e mãe, exemplo inabalável na fé, permita-me reproduzir-te as palavras de força e conforto, de paz e alegria, em suma, as palavras de um hino do inseparável amor de Deus por tu (e por todos nós), na expressão desde sempre atual do apóstolo Paulo, na sua Carta aos Romanos:

Quem nos poderá separar do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? 36. Como diz a Escritura: "Por tua causa somos postos à morte o dia todo, somos considerados como ovelhas destinadas ao matadouro." 37. Mas, em todas essas coisas somos mais do que vencedores por meio daquele que nos amou. 38. Estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem os poderes. 39. nem as forças das alturas ou das profundidades, nem qualquer outra criatura, nada nos poderá separar do amor de Deus, manifestado em Jesus Cristo, nosso Senhor. (Rm 8, 35-39)

Asia Bibi, tu nos dás força e coragem!
Obrigado!


Por fim, reproduzo a carta enviada por Asia Bibi ao Papa Francisco. 

http://www2.juventude.patriarcado-lisboa.pt/wp-content/uploads/20140114153645_Carta_Asia_Bibi_ao_Papa_Francisco.jpg

Fonte da primeira imgem:
http://www.ecosangabriele.com/eco/dal-fanatismo-e-dallignoranza/

Fonte da segunda imagem:
http://caminodeamor.com/zoom.php?tip=44

Fonte da carta da Asia Bibi ao Papa Francisco:
http://www2.juventude.patriarcado-lisboa.pt/portfolio-item/asia-bibi-rezem-por-mim/#

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