sábado, 11 de outubro de 2014

Por que as missas dominicais não atraem os jovens?


Toda liturgia é um encontro com a alegria de Deus.
 (Lucien Deiss)


Seguramente alguém já lhe desejou bom fim de semana ou até mesmo bom feriadão. E você deve ter feito a mesma coisa.

Quantas vezes, ao encerrar o expediente de trabalho semanal, as pessoas não desejam simplesmente bom fim de semana ou aproveite o feriadão?

Onde está o Domingo? Deus não entra nesses cumprimentos sociais.

O Domingo cedeu lugar para o fim de semana ou para o feriadão.

Domingo, do latim Dies Domini (Dia do Senhor), é, desde os primórdios do cristianismo e para sempre, o dia, por excelência, da celebração semanal do Mistério Pascal, ou seja, o dia de celebração da Missa, ou da Fração do Pão, ou Ceia do Senhor, ou da Eucaristia.

O Domingo deveria ser desejado com alegria. São as alegrias do Dia do Senhor que lhe desejo! É muito mais denso em qualidade do que um desejo de simples fim de semana ou mesmo de aproveitar um feriadão.

Dia de descanso, dia festivo. O próprio Senhor descansou, e o fez, segundo a versão do Antigo Testamento, no sétimo dia (Gn 2, 2-3). E um dia santificado como diz a Bíblia. É o Sábado, e os judeus o observam.

Pois bem, com a inauguração da Nova Aliança, o dia de descanso, para os cristãos, passou a ser o Domingo, dia da Ressurreição do Cristo.

Esse modo de cumprimentar espelha muito mais um convite às coisas materiais, sensíveis e imediatas, lazer e prazer, do que um convite a um descanso prazeroso na convivência do lar ou em família ou dos amigos e ao encontro festivo semanal com a comunidade e o Cristo Ressuscitado. 

Se Deus, ao final de seis dias, descansou para contemplar as suas próprias obras, por que nós não descansaremos para, semanalmente, contemplar o próprio Deus e a sua obra?

Para os jovens que já iniciam suas vidas nessa dinâmica de cumprimentos (bom fim de semana, bom ou aproveite o feriadão), os mais velhos não lhes passam algo muito valioso que é lhes desejar um bom Domingo ou, por exemplo, uma boa Semana Santa.

O que os jovens veem é isso. O Domingo que se chama fim de semana. A Semana Santa que se chama feriadão

No que diz respeito à celebrações litúrgicas da Igreja, os jovens não conheceram as anteriores ao Concílio Vaticano II (1962-1965). Conhecem as missas dominicais de hoje. 

Portanto, eles não têm como fazer comparações entre celebrações do passado e as atuais, não obstante os fiéis de então façam uma avaliação positiva, por vários ângulos, como a missa na língua vernácula, participação ativa etc..

Mas algumas coisas ainda não foram implementadas ou postas em devida prática, como desejou a Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia (documento do Concílio Vaticano II). Por exemplo, recuperar o sentido festivo da celebração litúrgica.

Por não verem uma assembleia em festa, por não verem uma missa celebrada que passe essa convicção do encontro festivo, alegre, dos fiéis com Cristo, os jovens acabam por não se interessar pela missa dominical ou ser indiferentes a ela.

Esse estado de coisas foi bem captado por um grande especialista na área: padre Lucien Deiss (1921-2007), professor de Sagrada Escritura e Teologia, que participou do movimento litúrgico e da da reforma litúrgica do Concílio Vaticano II. Num pequeno e valioso livro intitulado "A Palavra de Deus Celebrada" (Célébration de la Parole), padre Deiss relata:

Nossas missas dominicais, em vez de exprimirem a alegria de encontrar o Cristo ressuscitado, mostram frequentemente cristãos que cumprem algo de útil, o dever dominical, o que é muito bom para ir ao paraíso. Quanto às rubricas, tudo é executado conforme o ritual. Só falta uma coisa: a alegria da fé, o deslumbramento diante da beleza de Deus. Não conseguem libertar-se da tristeza. Não é sem razão que os jovens a ignoram ou a evitam; a re-forma da liturgia não lhes interessa (não conheceram a liturgia anterior ao Concílio), é a forma atual que eles julgam. Quanto à prática geral dos cristãos, calcula-se que baixou em seu conjunto 50% nesses últimos vinte anos. Quando as dioceses  constatam que o número de seus cristãos aumenta, enquanto o número dos "praticantes" da missa dominical diminui, somos obrigados a admitir que existe algum problema.

Apesar de o livro do padre Lucien Deiss ter sido editado em 1991, na França, essas palavras continuam atuais. E a pergunta permanece atualizadíssima: "somos obrigados a admitir que existe algum problema".

Para reflexão: não existe um problema, mas muitos. Exemplificado, um deles, acolhida; outro, formação contínua para todos.


Fonte da imagem:
http://scottdodge.blogspot.com.br/2006/11/dies-domini-christus-resurrexit.html

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