terça-feira, 4 de março de 2014

Jejum para além da Quaresma

aprendam a fazer o bem: busquem o direito, socorram o oprimido, façam justiça ao órfão, defendam a causa da viúva (Is 1,17).


Jejum, como ato de amor, ultrapassa o Tempo da Quaresma, ponto forte do comprometimento com a sua prática. 

Na definição do glossário de A Bíblia TEB, na tradução ecumênica, “jejum consiste em abster-se de comer e de beber durante um prazo determinado”.

Trocando em miúdos, o Secretariado Nacional de Liturgia, órgão executivo da Comissão Episcopal de Liturgia da Conferência Episcopal Portuguesa, registra :

O jejum é a forma de penitência que consiste na privação de alimentos. Na disciplina tradicional da Igreja, a concretização do jejum fazia-se limitando a alimentação diária a uma refeição, embora não se excluísse que se pudesse tomar alimentos ligeiros às horas das outras refeições.

Ainda que convenha manter-se esta forma tradicional de jejuar, contudo os fiéis poderão cumprir o preceito do jejum privando-se de uma quantidade ou qualidade de alimentos ou bebidas que constituam verdadeira privação ou penitência.

Leia mais aqui.

Porém, para o profeta Isaías, jejum não é simples e tão somente privação de alimentos. Isaías vai além. Eis o jejum que Deus prefere:

O jejum que eu quero é este: acabar com as prisões injustas, desfazer as correntes do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e despedaçar qualquer jugo; repartir a comida com quem passa fome, hospedar em sua casa os pobres sem abrigo, vestir aquele que se encontra nu, e não se fechar à sua própria gente. (Isaías 58, 6-7)

O Cardeal Jorge Mário Bergoglio, então Arcebispo de Buenos Aires, hoje Papa Francisco, não pensa e não age diferente. A sua Mensagem “Jejuar é Amar” - Gesto Solidário da Quaresma 2009, com início na Quarta de Feira de Cinzas (25 de fevereiro de 2009), guarda semelhança com as pegadas do profeta Isaías. Dizia o Arcebispo:

Uno de los pilares de nuestro camino de preparación cuaresmal es el ayuno; pero éste debe partir del amor y llevarnos a un amor más grande. El ayuno que Dios quiere sigue siendo “partir nuestro pan con el hambriento, albergar al pobre sin abrigo, vestir al desnudo y no dar la espalda al hermano”.

Ou, em tradução livre:

“Um dos pilares de nosso caminho de preparação quaresmal é o jejum; porém este deve partir do amor e levar-nos a um amor ainda maior. O jejum que Deus quer continua sendo: “partir nosso pão com o esfomeado, albergar o pobre sem abrigo, vestir o despido e não dar as costas para o irmão”.”

Na íntegra, esta Mensagem “Jejuar é Amar”, em castelhano, pode ser lida aqui.

Por sua atualidade e importância, o L'Osservatore Romano, na edição de 28 de fevereiro de 2014, se reporta à Mensagem do então Cardeal, hoje Papa Francisco, com a manchete: A quaresma de Bergoglio: Assim pregava aos fiéis o arcebispo de Buenos Aires, cujo texto, em português, pode ser lido aqui.

Tomo a liberdade de ir um pouco mais além. Por que não um jejum das palavras, da língua? Nesse sentido, ouso dizer que convergem as palavras do Papa Francisco na Oração do Angelus, domingo, 9 de fevereiro de 2014, que, a certa altura, diz:

Chegamos às indiscrições: também os mexericos podem matar, porque matam a reputação das pessoas! É tão feio falar mal! No início pode parecer uma coisa agradável, até divertida, como comer um rebuçado. Mas no final, enche-nos o coração de amargura, e envenena também a nós. Digo-vos a verdade, estou certo de que se cada um de nós fizesse o propósito de evitar os mexericos, tornar-se-ia santo! É um bom caminho! Queremos tornar-nos santos? Sim ou não? [Praça: Sim!] Queremos viver apegados aos mexericos como costume? Sim ou não? [Praça: Não!] Então estamos de acordo: nada de indiscrições! A quem o segue, Jesus propõe a perfeição do amor: um amor cuja única medida é não ter medida, ir além de qualquer cálculo. O amor ao próximo é uma atitude tão fundamental que Jesus chega a afirmar que a nossa relação com Deus não pode ser sincera se não quisermos fazer as pazes com o próximo.

Leia mais aqui.


Fonte da imagem:
http://blog.cancaonova.com/padreluizinho/2013/03/04/esmola-ou-caridade-o-que-sao-e-como-veve-las/

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