quinta-feira, 17 de maio de 2007

Abertura da Conferência de Aparecida

Domingo, 13 de maio.

No seu último dia de visita pastoral, Bento XVI dedicou-o à abertura da V Conferência Episcopal Latino-Americana e Caribenha.

O Santuário de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, sedia a Conferência. Escolha esta feita pela próprio Papa.

Dois eventos marcaram a abertura: de manhã, a celebração solene da Eucaristia, presidida pelo Papa, e à tarde, o pronunciamento do Papa no início dos trabalhos da Conferência.

Na homilia, o Papa deixou claro que esses dois mil anos anos transcorridos estão no tempo da Igreja. Esse tempo se coloca entre a "ida" (ascensão) e a "volta" (parusia) de Cristo. E esse tempo continua a fluir, como tempo da Igreja, até que se dê a mencionada "volta".

Nesse tempo entre a "ida" e a "volta", lembra o Papa, "estão também estes pouco mais de cinco séculos em que a Igreja fez-se peregrina nas Américas".

Para a liturgia, esse tempo é o último estágio da história da salvação. Esse tempo é também chamado de tempo do Espírito Santo. Em verdade, afirma o Papa: "O Espírito acompanha a Igreja no longo caminho que se estende entre a primeira e segunda vinda de Cristo: "Vou, e volto a vós" (Jo 14,28), disse Jesus aos Apóstolos."

O Cristo é o missionário do Pai. "A palavra que tendes ouvido não é minha, mas sim do Pai que me enviou" (Jo 14,24). Em prolongamento à missão de Cristo, somos, pelo batismo, missionários de Cristo.

E o Papa lembra que na sua Encíclica Deus caritas est está indicado o que é essencial na mensagem cristã. "A Igreja se sente discípula e missionária desse Amor". Nesse sentido, enfatiza o Papa: "A Igreja não faz proselitismo. Ela cresce muito mais por "atração": como Cristo "atrai todos a si" com a força do seu amor, que culminou no sacrifício da Cruz, assim a Igreja cumpre a sua missão na medida em que que, associada a Cristo, cumpre a sua obra conformando-se em espírito e concretamente com a caridade do seu Senhor".

A segunda parte da abertura da V Conferência está centrada no pronunciamento de Bento XVI feito à tarde.

Esse denso pronunciamento, que orienta o rumo dos trabalhos da Conferência, está fundado no tema eleito: "Discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que nossos povos n'Ele tenham vida - Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida" (Jo 14,6).

Em primeiro lugar, a V Conferência não é um desmonte das Conferências realizadas no Rio de Janeiro, em Medellín, Puebla e São Domingos. Ao contrário, afirma o Papa: "Esta V Conferência Geral se celebra em continuidade com as outras quatro que a precederam (...)."

Em cima do pronunciamento do Papa, deduzimos que a Conferência refletirá, entre outros desafios, sobre: a identidade católica dos povos latino-americanos e caribenhos (identificá-la), a tradição (continuidade sem rupturas), o discipulato e a missionariedade ("é condição indispensável o conhecimento profundo da Palavra de Deus"), fome e violência, a missa dominical, estruturas justas, a Igreja advogada da justiça e dos pobres ("não se identificar com os políticos nem com os interesses de partido"), lideranças leigas no âmbito político, universitário e dos meios de comunicão, família (anticoncepcionais, aborto, educação dos filhos), sacerdotes, religiosos e consagrados, leigos (co-responsabilidade), juventude e a pastoral vocacional ("Os jovens não temem o sacrifício, mas, sim, uma vida sem sentido").

O pronunciamento de Bento XVI permite múltiplas colocações para reflexão. É de grande profundidade, solidamente alicerçado na Bíblia, na Tradição e no Magistério.

Por ora, só.

O Papa, que cativou o povo e o conquistou, se despede do país, mas

"Tende a certeza de que levo a todos no meu coração, donde brota a Bênção que vos concedo e que faço extensiva a todos os Povos da América Latina e do Mundo.
Muito obrigado!"

Crédito da imagem de despedida do Papa: Paulo Liebert/AE

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